A Omentielva Nelya aconteceu no início deste mês e, com ele, o lançamento do volume 2 do Arda Philology, que contém os ensaios apresentados pelos participantes da conferência em 2007. Ele está a venda no site da Omentielva por 180 coroas suecas, mais ou menos 50 reais incluindo postagens.
Contudo — e não sei se isso foi intencional ou não — os dois volumes podem ser lidos na íntegra pelo Google Books! Por conta disso, vocês podem ler os volumes nos iframes abaixo.
A próxima Omentielva será dos dias 11 a 14 de agosto de 2009, em Valência, na Espanha.
Na discussão sobre a qual fiz alusão em um post anterior surgiu uma bela ferramenta para quem ainda está tendo problemas em compreender o caso possessivo-adjetivo na forma de uma dica do Thorsten Renk:
Tente traduzir o possessivo como “associado com” — então lambe Eldaiva é “a língua associada com os elfos”, Taurë Huinéva é “a floresta associada com as trevas”, Nurtalë Valinóreva é “o ocultamento associado a Valinor” e laman Ranaewendeva é “o animal associado com Ranaewen”…
Você pode ver mais sobre o caso possessivo-adjetivo no Curso de Quenya e uma breve passagem no meu resumo.
Eu já vi muita coisa estranha em fóruns sobre línguas élficas, mas a Elfling merece uma menção honrosa. Segundo Annaka Schultz, o reino Noldor é o melhor exemplo de um povo que aderiu de corpo e alma à causa da Sociedade Protetora dos Animais, pois eles não consideravam qualquer ser vivo como “posse”.
Seria algo maravilhoso, se Annaka tivesse ao menos uma prova textual. Infelizmente, ela não tem. Oops!
Tudo começou com uma tradução para uma coleira de um bichinho de estimação. A dona do bichinho queria escrever, em Quenya, as palavras “Eu pertenço a Ranaewen”, mas não conseguia achar em qualquer “dicionário” uma palavra para “posse”. Sua tentativa mais próxima foi **amin nauta an Ranaewen (desnecessário dizer que a tradução é do élfico da Grey Company, que não é tolkieniano).
Como nós sabemos que Tolkien deixou explícito que os elfos não “tinham filhos”, mas “estavam com filhos” — ou seja, não se referem aos filhos como posses — Annaka (usando o nome Órerámar) aparentemente estendeu a cortesia élfica, com a ajuda de algumas frases tiradas do “Book of Lost Tales”, a todos os seres vivos. As mensagens que originaram as discussões estão aqui e aqui, e a lista de mensagens que as seguem podem ser vistas após as originais.
Mas meu objetivo não é acabar com a reputação da pobre Annaka — todos nós cometemos gafes, e minha primeira mensagem na Elfling não foi diferente. O objetivo é lembrar que quando vamos fazer uma construção em neo-élfico, é importante sim imaginar como um elfo falaria, pois as línguas élficas não são apenas o português ou o inglês disfarçados. Mas para isso é importante estudarmos sem preconceitos as obras de Tolkien, relermos passagens e reavaliarmos nossas interpretações. A Annaka, por algum motivo, não só não viu o óbvio como se recusou a aceitar uma quantidade convincente de provas contrárias ao seu ponto de vista. Não façamos o mesmo erro em nossas traduções.
Aproveito a oportunidade para expor minha opinião sobre as tatuagens élficas, sobre as quais recebo um pedido por semana ao menos. Seria bom neste momento expor minha política sobre elas.
A versão resumida
A única pessoa que poderia verificar se uma tradução élfica está correta ou não — o criador das línguas, J.R.R. Tolkien — morreu em 2 de setembro de 1973 sem deixar uma lista de vocabulário ou gramática atualizados de qualquer uma de suas línguas.
O resultado é que a palavra que hoje pensamos que é “amor” amanhã pode muito bem significar “pastel”. Com isto em mente, se você quer mesmo tatuar, ótimo! Desde que você não me processe, fique a vontade!
A versão completa
O autor britânico J.R.R. Tolkien tinha um hobby. No tempo livre, ele criava línguas. Algumas delas ele gostou tanto que passou mais de 50 anos modificando drasticamente sua gramática até o ponto onde a língua em 1920 era totalmente distinta da língua em 1970.
Na década de 1940 e 1950 ele decidiu colocar as suas línguas na sua obra mais famosa, O Senhor dos Anéis — e é por causa dessa obra que você está aqui, neste site, lendo este artigo! O que Tolkien não nos avisou até que morresse em 1973 foi que, bem,ele não tinha a mínima intenção de que qualquer um de nós fosse capaz de compor nem um mísero nome nessas línguas.
Contudo, os fãs (leia: nerds) das suas obras são dedicados (leia: têm muito tempo livre). Por isso, desde 1954 eles vêm se esforçando para decodificar todo e qualquer exemplo deixado por Tolkien de suas línguas, em um esforço hercúleo de torna-las completas, algo que ele nunca teve a mínima intenção de fazer.
Esse tipo passatempo de nerd é geralmente tão inofensivo quanto o nerd que o pratica, exceto que desta vez (oh, a ironia!) virou moda em Hollywood. Uma vez que virou moda, muitas pessoas — talvez você mesmo, que está lendo este artigo — sentiram-se atraídas pela ideia de ter uma frase élfica “legítima” tatuada no seu corpo.
Mas os nerds, em geral, esqueceram de avisar que a única pessoa que pode atestar a legitimidade de uma tradução élfica já estava descansando em paz há mais de 28 anos à época do lançamento de A Sociedade do Anel. Para piorar a situação, a cada dois ou três anos um grupo privilegiado de estudiosos das línguas élficas (leia: übernerds) publica um texto completo inédito de Tolkien que mais vezes do que não destroi todo o trabalho de reconstrução que nós fizemos.
Portanto, meus caros leitores que desejam uma tatuagem élfica, o aviso está dado. Eu até traduzo a frase, mas eu não aconselho e não me responsabilizo pelo uso das frases em tatuagens, scarification ou qualquer outra forma de marcar o corpo permanentemente.
Demorou um dia a mais do que eu esperava por conta de um problema na internet do meu condomínio, mas agora o download das fontes élficas está normalizado.
Faltou recarregar uma coisa na migração: as imagens e arquivos que eu havia colocado à disposição de vocês aqui no site. Elas estão novamente no ar, inclusive o compêndio de fontes. Oops! Faltou as fontes élficas novamente! Hoje à noite eu faço o upload. Perdão pelo transtorno.
Se algo mais estiver quebrado, não temam em entrar em contato.
O dialeto Mithrimin recebe seu nome por ser próprio dos habitantes da região de Mithrim, no noroeste de Beleriand. Nessa área morava Fingolfin e seus descendentes quando se assentaram no continente no início da Primeira Era do Sol. Assim como todos os Noldor exilados, Fingolfin e seus súditos aprenderam a língua dos Sindar rapidamente, mas o Quenya influenciou a sua pronúncia, da mesma forma que um italiano seria influenciado por sua língua mãe enquanto tenta falar galês. O resultado é um Sindarin muito mais “duro”, com menos fricativas. Os filhos de Fëanor e seu povo também utilizaram esse dialeto, embora com algumas diferenças devido à distância entre os territórios habitados por cada um.
Como escrevi antes, busquei alternativas para a hospedagem anterior e encontrei abrigo com a BlueHost, onde tenho um site com alguns amigos dos Estados Unidos.
Não deve haver muita diferença na velocidade para vocês visitantes, mas se houver, fiquem a vontade para me avisar. Teoricamente terei meu e-mail funcionando novamente hoje ainda, mas no máximo amanhã.
Bem, como quem ainda visita este site deve ter percebido, o site passou um bom tempo fora do ar. Vou fazer o possível para que isso não aconteça novamente.
Gostaria de aproveitar e desejar feliz aniversário à Valinor! Parabéns pessoal!