Por Thorsten Renk — mensagem original na lista Elfling.
Parcialmente para responder a uma discussão com Didier [Willis] sobre por que eu não torno públicas todas as minhas razões para selecionar uma forma em particular sobre outra, eu decidi escrever um estudo de caso aqui, que talvez ilustre que se eu fosse fazer isso em todos os casos, primeiro o curso seria basicamente notas de rodapé, e segundo que o tempo de preparação cresceria pela décima potência ou mais.
A questão apresentada é: Como o pretérito de lanta- “cair” deve ser apresentado?
Primeiro, há várias versões atestadas dele: LR:56 tem lantie “caiu”, LR:47 lantier “eles caíram”, SD:310 lantier > lantaner “eles caíram” e SD:246 lantaner “eles caíram”. Então do ponto de vista de uma análise acadêmica, nós podemos terminar por aqui: lantie é o pretérito atestado de lanta-, assim como lantane. Mas fica igualmente claro que ocorreu uma mudança conceitual de LR até SD. Uma comparação com várias outras formas indica que pretéritos com -ie desapareceram do Quenya assim que Tolkien decidiu que há um tempo perfeito distinto com o marcador -ie. Se nós queremos mostrar o Quenya próximo à época na qual Namárië foi escrito (que inclui tempos perfeitos), algumas das formas já são desfavorecidas.
Segundo, uma pessoa pode ir ao PE17 e estudar formações do pretérito lá e em outras fontes mais tardias (e ignorar As Etimologias por um momento). Aqui nós encontramos boas evidências de que Tolkien tinha pretéritos fortes para verbos derivados em mente, por exemplo caita- “deitar” tem keante, kaine (VT28:12), raita- “sorrir” tem reante (PE17:182), tenta- “apontar” tem tenante (VT49:23), lenweta- “ir embora” tem lenwente (PE17:51), auta- “ir embora” tem oante (WJ:366) e assim em diante. Baseado nesse argumento, não seria forçado demais supor que se Tolkien tivesse escrito um pretérito para lanta- em PE17, ele poderia ser *lanante ou, com a perda do sufixo, *lanne.
Terceiro, nós podemos considerar que a etimologia do verbo lanta- é derivada nas Etimologias de DAT/DANT. Isto na verdade implica que este pode não ser um verbo derivado – uma pessoa pode vocalizar a raiz e obter o verbo via DaNaTa– > dan’ta > lanta-. Neste caso o -nt- final é parte da raiz e não pode ser retirado no pretérito como um sufixo de derivação -ta poderia ser. Então *lamne talvez não seja uma opção válida devido à sua etimologia e, tratando-o como verbo primário, lantane não é implausível, invalidando a discussão inteira sobre a distinção entre transitivo/intransitivo em PE17, que é válida apenas para verbos derivados. Mas PE17:162 dá a raiz como DAN-TA, que concorda com a expectativa de um verbo derivado, então em outra mudança conceitual na derivação, nós podemos concluir que o argumento acima é válido afinal.
Mas, quarto, há ainda mais uma coisa a se considerar: lanta- não era um verbo aleatório no mundo de Tolkien, mas há a conexão a Númenor e aos fragmentos Avallónianos. Considere At-lant-is, lantie “caiu”, e ata-lant-e “queda [ing down fell] e hi-Akallabêth “ela que caiu”. Isto não é uma concordância por coincidência. Então com o pretérito lanante ou lanne a conexão a Atlântida seria perdida. Depende de cada um adivinhar se Tolkien teria feito isso ou não, é claro. Mas foi este fator, baseado em minhas idéias sobre o senso estético de Tolkien no uso das línguas, e o sentimento de que a conexão com Atlântida seria importante a ele afinal, que me levaram no fim a optar por uma solução nada usual.
Eu mantenho o argumento de que verbos intransitivos nos conceitos do Quenya tardio não possuem normalmente pretéritos fracos, então isto riscou lantane da lista, e eu requeri que a conexão com Atlântida deveria ser visível em qualquer fragmento Avallóniano tardio hipotético – então isto deixou o raramente visto pretérito em -e, do qual é possível formar a partir de lanta- o pret. lante – que cumpre em todos os requisitos.
É claro que esta não é a resposta – baseado no que escrevemos acima, deveria estar claro que argumentos a favor de qualquer outro pretérito entre lantane, *lanne ou *lanante (bem, talvez não lantie) pode ser feito. Mas eu sinto que é de alguma forma uma resposta que captura o espírito do que era importante para Tolkien.
Um comentário em “O misterioso pretérito de lanta-”