Palestras no AnimeZ (8 e 9 de dezembro)

Estou escrevendo para avisar a todos que fechei com os organizadores do AnimeZ, que acontecerá nos dias 8 e 9 de dezembro, no Colégio Estadual Júlio de Castilhos (“Julinho”; Praça Piratini, 74 — Bairro Santana, Porto Alegre), para fazer duas palestras — uma em cada dia do evento — sobre Tolkien, na área de RPG do evento.

O horário ainda será definido, mas assim que eu tiver a programação eu escreverei aqui no blog. Caso você, leitor, seja jogador de RPG, pode me ajudar ao longo do dia dizendo o que você gostaria de saber sobre línguas tolkienianas voltado ao assunto dos jogos de interpretação. Fiquei de dar a resposta sobre o assunto ainda hoje.

Aurinko e Aurë, Finlandês e Q(u)enya

O estudioso finlandês Petri Tikka escreveu para a lista Elfling a segunte mensagem:

O Q(u)enya aure “luz do sol, brilho do sol, luz dourada, calor” (PE12:33) com os seus significados tardios (como “(luz do) dia”, RC:727) é similar, de uma maneira suspeita, ao finlandês aurinko “o sol”. Eu apenas percebi isto enquanto lia o comentário sobre esta palavra em VT49:45. É estranho eu não ter encontrado alguém comentando este óbvio empréstimo antes de mim. A palavra finlandesa aurinko possivelmente descende de auer “nevoeiro”. E uma forma diminutiva do Quenya aure seria *aurinke

Boas fontes para ler sobre a comparação entre o Quenya e o finlandês são os artigos “Similarities between real languages and Tolkien’s Eldarin” no site Sindanórië e “Are High Elves Finno-Ugric?” no site do também finlandês Harri Perälä. Este também disponibilizou links para ótimos artigos sobre o assunto, que você pode acessar clicando aqui.

Petri Tikka escreveu mais tarde nesse dia que Carl Hostetter apontou para ele um comentário do Christopher Gilson sobre o assunto em VT33:23 (em janeiro de 1994!). Travis Henry apontou que o latim aurum “ouro”, do i.-e. *aues “brilhar, ouro” é uma outra fonte possível, já que o latim também foi uma fonte de inspiração para o Quenya.

Homem trabalhando

No momento, estou tentando resolver problemas que ocorreram com a instalação da minha nova conexão, que é de 1mb. Devido ao mexe-remexe no meu computador, está muito difícil trabalhar em um artigo que estou escrevendo para cá.

A sorte para aqueles que estudam Sindarin e sabem inglês é que não dependem de mim para ler sobre o assunto. É só dar uma visitadinha nesta mensagem da Lambengolmor do Bertrand Bellet, tratando sobre “vocalização de consoantes implosivas em Noldorin e Sindarin”. Quem utiliza vocabulário das Etimologias precisa compreender essas regras para “atualizá-las” ao desenvolvimento fonológico desenvolvido mais tarde por Tolkien.

Novidades na Sindanórië

No dia 8 de outubro o estudioso Roman Rausch anunciou novidades em seu site, Sindanórië.

  • Essekenta Endamarwa — o artigo trata sobre os nomes de pessoas e topônimos em The Return of the Shadow, The Treason of Isengard e The War of the Ring. O artigo agora traz informações do PE17 sobre nomes como athelas.
  • Concordância de adjetivos em Quenya — Segundo Rausch, o artigo foi reescrito por completo, incluindo “os vários exemplos” em PE16 e também alguns outros exemplos em VT49 e PE17.
  • Fonologia histórica do Goldogrin — O artigo é novo, e traz informações sobre o desenvolvimento do Goldogrin (o gnômico do Book of Lost Tales) desde o Eldarin Comum. É, eu sei, eu pensei que nunca ia ter de ler o Qenya Lexicon também, mas adivinhe só? Acredite, é sempre bom ter informações sobre todos os estágios conceituais das línguas tolkienianas.
  • Abordagem sistemática às traduções de nomes élficos — Muita gente traduz nomes para as línguas élficas, eu não sou exceção. Mas quem já estudou como Tolkien criava versões élficas para nomes comuns de nosso mundo? Só o Roman Rausch.

Sobre este último artigo, há uma passagem muito interessante:

Note que Tolkien usa Vala ao invés de Eru para traduzir “Deus”. De fato, é muito duvidoso que Eru aparecesse em nomes da Terra-média, já que era uma palavra deixada para ocasiões especiais.

Eu não tenho certeza se utilizarei esta dica para os nomes hebráicos, mas para os nomes germânicos certamente é uma abordagem que adotarei em uma próxima revisão da minha lista de nomes.

Seu brilhante webmaster lembrou agora de adicionar os links para os artigos. Perdão. blush

A penny for the guy

Remember, remember the Fifth of November,
The gunpowder treason and plot,
I know of no reason
Why gunpowder treason
Ever should be forgot.
Guy Fawkes, Guy Fawkes, t’was his intent
To blow up King and Parliament.
Three-score barrels of powder below
To prove old England’s overthrow;
By God’s providence he was catch’d
With a dark lantern and burning match.
Holloa boys, holloa boys,
Let the bells ring!
Holloa boys, holloa boys,
God save the King!
A penny loaf to feed the Pope,
A farthing o’ cheese to choke him,
A pint o’ beer to rinse it down,
A faggot o’ sticks to burn him.
Burn him in a tub of tar.
Burn him like a blazing star.
Burn his body from his head.
Then we’ll say the Pope is dead.

Fonte: Making Light

RingCon 2007

A RingCon é uma convenção que vem acontecendo anualmente na Alemanha. Ano passado, se não me engano, os atores Sean Astin e Miranda Otto compareceram, e neste ano os convidados foram: Andy Serkis (Gollum), John Noble (Denethor), Thomas Robins (Deagol), Mark Ferguson (Gil-galad), Jed Brophy (orc), Lori Dungey (Mrs. Bracegirdle), Jonathan Harding (Erestor e Dinendal), Kiran Shah (duble de hobbit), and Daniel Falconer (Weta workshops).

A TORN disponibilizou algumas fotos do evento, para quem quiser dar uma olhada (enquanto espera que eu escreva algo útil aqui). Aproveite para ver o novo look da TORN, que agora utiliza o software da WordPress (assim como a Tolkien e o Élfico).

Nova versão do Curso de Sindarin

Há alguns dias, o estudioso Thorsten Renk lançou a versão em inglês atualizada de seu Curso de Sindarin, que já está disponível para download no seu site, Parma Tyelpelassiva.

Você pode baixar o curso clicando aqui. O Thorsten também disponibiliza um arquivo de changelog, listando todas as alterações feitas por ele em cada versão do curso. A versão atual é a 2.7.

É… Cá estamos novamente

Aurë utúlië? Espero que sim. Infelizmente ficamos um mês inteiro fora do ar, mas como até mesmo site brasileiro nunca desiste, a Tolkien e o Élfico está aqui novamente. Ironicamente ressuscitada no dia de Finados.

Neste momento estou terminando um trabalho para a faculdade. Mas neste fim de semana (ou hoje) eu trarei as notícias do que aconteceu em outubro no mundo tolkieniano.

Brancura Élfica

Estava eu aqui a traduzir alguns nomes em Quenya e Sindarin que me pediram há muito tempo. (Desculpe!) Um deles é “Bianca”, que como aprendi vem do francês Blanche “branco(a)”.

Para quem não sabe, os elfos adoram a cor branca. Adoram tanto que inventaram um monte de palavras para diversos tipos de branco. Listo abaixo as palavras para a cor branca em Quenya e Sindarin, excluindo ainda as que aparecem em obras pré-SdA. Primeiro em Quenya:

  • ninquë “frio, pálido”. Se refere, na verdade, mais à temperatura do que à brancura — S:456, mas cf. XI:417.
  • fána “branco como as nuvens”. Aparece em MC:221, no famoso poema Markirya. Utilizado para referir-se à brancura das nuvens — cf. fanyar “nuvens” em Namárië. O termo é relacionado com os fanar, os corpos angelicais que os Valar e Maiar utilizavam para serem visíveis aos Filhos de Eru.
  • adj. lossë “branco como a neve” (há um substantivo lossë “neve” também). Discutido em RGEO:69, na análise do poema Namárië por Tolkien.

Agora em Sindarin:

  • nim é um cognato do Q. ninquë (S:456)
  • fain é o cognato do Q. fána. Nas Etimologias é encontrado como fein, mas ei do Noldorin nesta fonte geralmente leva a ai no Sindarin tardio. Como um adicional, o nome original das Ered Nimrais lit. “montanhas dos chifres brancos era “Montanhas de Eredfain” (VIII:288), onde ered + fain “montanhas + brancas”.
  • glos(s) é o cognato do adj. do Q. lossë (RGEO:70)
  • *glân “branco brilhante, luminoso, claro, resplandecente”. Atestado sob mutação suave em Curunír ‘Lân “Saruman, o Branco” (CI:428), sem indicativos do tipo de brancura; contudo, o dicionário Hiswelóke faz um bom trabalho traçando paralelos com a raiz GALÁN “brilhante” das Etimologias (VT45:13), o gnômico glan (PE11:39) “‘claro, puro’, de ‘brilhante’ originalmente” diz o autor Didier Willis e o próprio galês glan (que possui vogal longa, embora as convenções ortográficas do galês não mostre). Talvez o cognato em Q. seja *alan, que é listado em VT45:13 como “daytime” (ou seja, o tempo durante um dia em que o sol aparece).

A parte mais engraçada (para quem não está traduzindo, claro) é que a tradução mais “neutra” de branco é, em minha opinião, *glân! Mas eu sou um cara democrático, então vou fazer uma votação: como você acha que eu deveria traduzir “Bianca”?

Resumo do Curso de Quenya: Lição 16

O Caso Instrumental

Como o nome deixa evidente, este caso serve para indicar o “instrumento” ou meio pelo qual ou com o qual o sujeito realiza ou efetua uma ação. Em português a palavra “com” serve a este propósito, mas não em todas as situações. Veja:

  • O garoto cortou-se com uma faca ? utilizaria-se o instrumental no Quenya, pois a faca foi o instrumento usado para o garoto cortar-se;
  • O garoto foi com a garota à cidade ? não utilizaria-se o instrumental, pois aqui “com” significa “junto a, ao lado da”. (Nesta situação, utiliza-se as- antes do substantivo ou prefixado a ele.)

Existem outros usos para o instrumental, então é bom dar uma lida no curso com atenção.

Na Carta Plotz (VT6:14) encontramos as seguintes formas do instrumental para cirya “navio” e lasse “folha”:

  • s. ciryanen, pl. ciryainen, pl.part. ciryalínen, dual ciryanten
  • s. lassenen, pl. lassínen, pl. part. lasselínen, dual lassenten

O autor do Curso resumiu bem: adicione -en ao dativo, mas cuidado com substantivos terminados em L (o Helge sugere –lden).

Verbos com uma vogal não enfatizada + -ta

Gostaria de enfatizar que esta parte da lição foi criada pelo Helge a partir de uma forma verbal que aparece em um contexto desconhecido em um manuscrito sobre o qual nada conhecemos (exceto essa forma e o fato de ela estar na Bodleian).

A idéia básica é que o pretérito airitáne “santificou” (VT32:7) viria do verbo *airita- “santificar” (formado do adj. airë “sagrado” + -ta). No pretérito, pelo i de -ri- ser curto, o a de -ta- seria alongado.

Outro exemplo único é envinyata- “renovar” (en- “re-” + adj. vinya “novo” + –ta), cujo particípio passivo é envinyanta (com infixação nasal, ao invés do esperado **envinyataina). Considera-se, portanto, que *airita- possuiria o particípio passivo *airinta, e envinyatáne seria o pretérito de envinyata-.

Para sustentar o argumento, o autor recorre às Etimologias, onde há o verbo ninquitá- “embranquecer”. Não encontrei nenhuma forma semelhante (adj. + -ta) além dessa, mesmo no QL, mas talvez lopeta- “trotar”, pret. lopetane (PE12:56; a raiz LOPO trata só de eqüinos) demonstra que, até mesmo em 1915, a idéia já existia no Qenya com relação às vogais não enfatizadas + -ta.

O Imperativo

É a forma verbal para expressar comandos. Além das formas listadas no Curso, em PE17:94 há cinco novos exemplos de imperativo ao menos (listados por Thorsten Renk no seu índice):

  • á kare sí añkárie “tente com mais vontade”
  • á lire am(a)lírie “cante com mais vontade”
  • a kene añkénie “olhe com mais atenção”
  • a tire antírie “veja mais de perto”
  • a nore amnórie “corra mais rápido”

À única excessão de “corra mais rápido”, todos os novos exemplos levam a crer que a maneira pela qual o imperativo é formado é: á + verbo no aoristo/infinitivo.

A fórmula nai

Nai “seja que” expressa um desejo. As frases Nai hiruvalye Valimar/Nai elye hiruva “Seja que tu encontres Valimar/Seja que tu mesmo encontre-a” no Namárië, e Nai tiruvantes “seja que [os Valar] o guardem” no Juramento de Cirion são conhecidas a tempos.

Recentemente, no Vinyar Tengwar 49, foram apresentadas cinco frases volitivas (ou seja, de fórmula nai), onde ao menos uma, nai Eru tye manata “Deus te abençoe” (também atestado em PE17:75) não possui um verbo no futuro (manata seria o presente do verbo *manta-), o que nos demonstra que o verbo de frases volitivas pode estar em qualquer tempo.