Gandalf em Lisboa

Gandalf Sede CAMPANHA PS Uma saída do #tolkien que merece ser mencionada pela originalidade: o blogueiro português Carlos João mostra uma foto de “Gandalf” no discurso de posse de António Costa, agora Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Toda a capital está um caos. A CML está na prática, tecnicamente falida, paralisada e sem rumo. Não existe dinheiro para papel higiénico em determinados departamentos, quanto mais para anéis. Mas a presença do feiticeiro, por si só, acalma o povo. O código penal não prevê a punição do crime de peculato – ou outro – perpetrado por um feiticeiro, ainda para mais branco! E isso confere uma certa inimputabilidade à lista encabeçada pelo António Costa. O aparelho político-partidário recorre a todas as armas para disputar a tão almejada vitória.

Não sabia que a situação estava tão preta nos Portos Cinzentos. Infelizmente, acho difícil que até Gandalf consiga reverter uma situação dessas: os hobbits, por natureza, têm bom coração e podem ser movidos por motivos nobres. Políticos, por outro lado…

Fonte: Cérebro Dormente via #tolkien

Vinyar Tengwar 49: “Usual”, “Lugar de Descanso”, mais sobre “antes” vs. “depois”

Na lista Lambengolmor, o membro Fredrik Ström, da Suécia, discute na mensagem 1011 uma forma interessante que aparece em VT49:22: o adj. senya “usual”.

Ele nota que o editor menciona sen- “deixar livre, libertar, deixar ir” como uma possível palavra relacionada, mas Fredrik imagina uma outra conexão: senda “descansando, em paz”, da raiz SED. Se houver tal conexão, senya poderia ter se desenvolvido nessa raiz por ser “o estado de algo que não é perturbado: o estado ao qual algo retorna quando deixado em paz”, diz Fredrik. Em uma nota editorial no e-mail, Patrick Wynne — o autor do artigo no VT49 — diz que um dos membros do painel de revisão mencionou tal conexão, e que ele sente que deveria ter mencionado a possibilidade de senya vir de SED.

Fredrik tenta fazer uma conexão de senya com sennui na King’s Letter com a qual Patrick não concorda, mas no meio do raciocínio ele nota em A Reader’s Companion p. 523 o nome Sennas Iaur “Velha Casa de Hóspedes”, que pode vir da raiz SED. Fredrik arrisca uma reconstrução em Quenya *sendassë, com o sentido de “lugar-de-descanso” (ing. resting-place) que Patrick achou “bem provável”.

Fredrik menciona a questão do “antes” vs. “depois” em élfico. Notando que epe é “antes” (espacialmente) ou “depois” (temporalmente) como apresentado em VT49:12, ele lembra de apa que aparece “antes, no tempo” e “após, (depois de)” em VT44:36. No ensaio “Quendi and Eldar (XI:387), há o Q. apanónar ‘pós-nascidos’ perto do S. aphad- ‘seguir’ ap-pata ‘andar atrás, em uma trilha ou caminho’.”

A parte interessante? Se a semântica for a mesma em Quenya e Sindarin, e também apa/epe sejam apenas variantes de uma raiz, em um momento “seguir” significaria “estar atrás”, enquanto em outro estágio do desenvolvimento externo significaria “estar à frente”! Isso é explicado por Patrick: para que você possa seguir alguém, você precisa estar fisicamente atrás de alguém, enquanto temporalmente à frente desse alguém.

A maneira que a mente de Tolkien funcionava era muito interessante. (Sem sarcasmo.)

Vinyar Tengwar 49: Verbo “casar”

Há dois dias atrás mencionei a frase volitiva nai elen atta siluvat aurenna veryanwesto. Nessa frase aparece um verbo intransitivo verya- “casar”. Segundo Fauskanger, “aquele com quem você se casa aparece no caso alativo, não como um objeto direto: ver o inglês ‘get married TO somebody'”.

Outra novidade interessante é que o pretérito deste verbo é veryanë, o que contraria a teoria de Fauskanger no Curso de Quenya, como ele mesmo admite. Ele lista os exemplos anteriores de verbos em -ya com formas atestadas no pretérito:

  • farya- > farnë;
  • lelya- > lendë;
  • ulya- > ulyanë quando transitivo; ullë quando intransitivo.

Portanto, a página 45 nos trás uma boa e uma má notícia: a boa é que temos um verbo “casar”; a má é que o nosso sistema estipulado para os pretéritos de verbos em -ya demonstra deficiências.

Minha opinião: continuem utilizando o sistema do Curso de Quenya, exceto em verya-.

Vinyar Tengwar 49: Substantivo “vida”

No jornal Vinyar Tengwar 42, em uma discussão sobre os nomes dos rios e faróis de Gondor, Tolkien nos dá uma expressão idiomática em Quenya: kuivie-lankasse (no Q. do SdA seria cuivië-lancassë), lit. “na beirada da vida” (p. 8).

O substantivo cuivië, desde então, vem sendo utilizado para “vida” nas composições em Neo-Quenya desde então. Mas essa palavra também é utilizada para o subst. “despertar” (no sentido de “acordar do sono”), como visto em Cuiviénen “Águas do Despertar”.

Em uma das frases volitivas trazidas pelo VT49, contudo, Tolkien utiliza koivierya, lit. “vida dele/dela” (p. 41), de onde podemos facilmente deduzir coivië “vida”. A escolha de Helge Fauskanger, da Ardalambion, é incluir a partir de agora em suas listas de palavras coivië para “vida” e cuivië apenas para “despertar”. É possível que tal palavra esteja também numa próxima revisão do Curso de Quenya (até por ser um novo exemplo da desinência pronominal -rya).

Quenya na Wikimedia Incubator

Já há algum tempo a Wikimedia Incubator, um dos sites da rede que faz parte a Wikipédia, vem fazendo um teste de tradução da Wikipédia para o Quenya. Hoje, enquanto instalava uma wiki para uso pessoal, utilizei o artigo sobre Quenya da Wikipédia portuguesa como template para alguns ajustes.

Então comecei a fazer algumas comparações com o artigo em inglês que, claro, é muito superior, mas o que me chamou a atenção foi a chamada para a Wikimedia Incubator no final. Resolvi dar uma olhada.

Que tristeza. Este é exatamente o conteúdo que temos agora no artigo sobre Quenya:

Quenya ná lambe Eldaiva.

Eu conheço vários leitores deste blog que conseguiriam fazer melhor do que isso. Vamos começar com algo bem básico:

Quenya, hya Quendya, né lambë quetina ló Vanyar ar Noldor Amanessë. Anes la quetina ló Teleri (i quentë Telerin), ar Sindar (i quentë Sindarin). Hecelmaressë Quenya né vaquetina lambë sanyenen Elwë Singollo, an Aran Sindaron la merne lasta i lambë nahtari lieryo.

Traduzindo: O Quenya, ou Quendya, era a língua falada pelos Vanyar e Noldor em Aman. Ela não era falada pelos Teleri e Sindar. Em Beleriand o Quenya era uma língua proibida por ordem de Elu Thingol, pois o Rei dos Sindar não queria ouvir a língua dos assassinos de seu povo.

Admito, não foi tão fácil quanto parece. Contudo, esse texto diz muito mais sobre o Quenya do que o que lá está.

Então, alguém se habilita?

Nota: Estou colocando o texto que se inicia como “Quenya, hya Quendya, né lambë quetina ló Vanyar ar Noldor Amanessë…” em domínio público, se é que tenho tal permissão. Qualquer um que quiser pode modificá-lo e utilizá-lo da forma que quiser sem meu consentimento e sem me dar crédito, na esperança que seja um incentivo para que alguém se habilite a tentar dar uma contribuição ao projeto da Wikimedia Incubator.

Vinyar Tengwar 49: Numerais e plural dual nos verbos

Na página 45 do VT49, Tolkien explica o uso dos numerais no Quenya.

Todos os numerais (exceto er “um”) aparecem após o substantivo. Também quando o substantivo vem antes de atta “dois”, ele se mantém no singular. Isso nos leva ao seguinte sistema, utilizando elen “estrela” como exemplo:

  • Er elen. “Uma estrela.” (VT44:17 contraria isso com Eru er “um Deus”)
  • Elen atta. “Duas estrelas.”
  • Eleni neldë. “Três estrelas.”
  • Eleni canta. “Quatro estrelas.”

Outra coisa interessante é que essa explicação acompanha uma das cinco frases volitivas apresentadas no VT49, p. 44: Nai elen atta siluvat aurenna veryanwesto. “Que duas estrelas brilhem no dia de seu casamento.” Note que o verbo sil- está no futuro e também está no plural dual! É a primeira vez que temos um exemplo de verbo com plural dual.

Sobre esse assunto, Helge Fauskanger da Ardalambion diz que “se esse substantivo é o sujeito de um verbo, o verbo recebe a desinência dual -t, portanto elen atta siluvat ‘duas estrelas brilharão'”. Por enquanto eu não possuo acesso direto a uma cópia do VT49, o que limita minha capacidade de checar essa informação, mas eu não seria corajoso o suficiente para dizer que em todas as situações envolvendo o numeral atta o verbo é posto no plural dual.

Para mim essa frase deixa explícito que esse par de estrelas tem um significado muito importante e, portanto, o verbo deveria deixar isso claro através da desinência -t, mas eu não descartaria a possibilidade de que elen atta siluvar é possível. O que impede do dia estar particularmente nublado e apenas duas estrelas quaisquer serem as únicas visíveis no céu? 🙂

Resumo de “Tolkienian Linguistics: The First Fifty Years”

Novamente o trio Douglas A. Anderson, Michael D. C. Drout e Verlyn Flieger trazem o excelente Tolkien Studies, um compêndio de com diversos ensaios acadêmicos sobre a vida e obra de Tolkien. Em seu volume 4, lançado recentemente, temos um artigo que deve interessar a todos nós: Tolkienian Linguistics: The First Fifty Years, escrito por Carl F. Hostetter, contando a história da lingüística tolkieniana de 1954 até 2007. Continue lendo Resumo de “Tolkienian Linguistics: The First Fifty Years”