Recebi um e-mail do Helge hoje de manhã, onde ele dizia sobre comentários que fiz na lista elfling-d:
Já que você está tão ávido a espalhar a mensagem do Thorsten, completa com afirmações incorretas e totalmente não-documentadas sobre minhas supostas opiniões, talvez você possa se incomodar de traduzir minha resposta também? Como uma recompensa pelo tempo que levei anteriormente para responder suas questões, por exemplo?
Eu respondi:
Claro. Qualquer pessoa tem o direito de resposta. Eu o faria mesmo que você não tivesse me ajudado sequer uma vez ao longo dos anos. É minha obrigação moral (e eu não estou sendo sarcástico aqui).
Então, abaixo segue a resposta do Helge ao Thorsten, como foi pedido pelo autor:
Thorsten Renk escreveu que as pessoas que vão ao meu website “entram em contato com observações como esta, que somadas todas, trazem a seguinte impressão”:
A Equipe Editorial tem em sua posse uma vasta quantidade de material de Tolkien.
Isto, eu creio ser um tanto não-controverso, então não posso me desculpar se os leitores da Ardalambion ficam com essa impressão. Isto é simplesmente fato.
Contudo, por maldade e porque querem se vingar de desavenças passadas, não disponibilizarão esse material, e o que eles disponibilizam vêm devagar e geralmente é escolhido aquilo que é preliminar e desinteressante.
É esta que deveria ser minha opinião? Pois se a E[quipe] E[ditorial] iniciasse algum tipo de “greve” seria um tanto sem sentido e na verdade impossível de notar: A nós raramente é dito o que eles fazem ou não fazem antes que eles realmente tenham algo (quase) pronto para publicação.
Eu não creio que eu algum dia eu tenha dito que eles suprimem material para se vingar de alguém. (Eu sinto, contudo, que enquanto eles estão sentando em informações específicas que não foram publicadas, membros da equipe não deveriam se sentir livres para criticar qualquer trabalho secundário por falhar em levar essa informação em consideração.)
Até aonde podemos dizer, a Equipe Editorial havia já decidido publicar o material de uma maneira largamente cronológica antes de que houvessem grandes controvérsias, de fato antes que o público sequer soubesse que Christopher Tolkien estava enviando a eles o material de seu pai. Então dar prioridade ao material mais primordial não é algo causado por tais controvérsias. Sua decisão de postergar a publicação de material da era do SdA foi a causa da controvérsia. Nós não devemos confundir causa e efeito aqui.
Até a publicação do Parma 17, aquele jornal parecia ainda estar seguindo o plano original. Eu tenho lido cartas dos membros da equipe onde está implícito que a publicação cronológica seria a única maneira própria de manejar a maior parte do material. Já que eu favoreço uma abordagem seletiva ao invés de estritamente cronológica, o Parma 17 foi de muitas maneiras uma surpresa agradável: eu honestamente temi (e esperava) que muitos anos fossem passar antes que nós pudéssemos ver as notas lingüísticas de Tolkien sobre o material do SdA.
Considerado o contexto, eu não posso ver por que qualquer pessoa deveria precisar interpretar como uma depreciação se eu notar após a súbita publicação de uma quantidade substancial de material tardio: “Uma pessoa pode imaginar se a Equipe Editorial agora pretende continuar publicando esse material tardio até o ‘fim’, apenas então retornando para o material anterior, ou se esta edição é apenas exceção do plano-mestre de publicação cronológica.” Eu gostaria muito de saber a resposta.
Você pode, se quiser, ler uma cor de ironia nas palavras “plano-mestre”, e eu sou admitidamente da opinião que o projeto iniciado pela Equipe era muito ambicioso, de verdade. Em meados dos anos 1990, eles aparentemente pensavam que poderiam completar o projeto em mais ou menos uma década (ou ao menos um deles foi citado desta forma). Não aconteceu.
É por isto que eu dou as boas-vindas a uma mudança na política editorial que mudaria o foco para notas sobre a versão clássica dos mitos. Eu absolutamente concordo que todas as notas de Tolkien deveriam ser publicadas, mesmo o material tipicamente pré-clássico, mas já que o projeto parece que irá durar por décadas, prioridades devem ser um assunto importante.
Acontece que isto é apenas ficção. Eu tenho uma opinião pessoal um tanto forte desse tipo de atitude, de dar esse tipo de falsa impressão às pessoas.
E eu, em troca, me ressinto de ser acusado de enganar outros, sem documentação.
Eu certamente expressei minha frustração sobre o fato que o projeto de publicação se arrasta por tanto tempo, e eu não faço segredo do fato que eu discordo com as prioridades (tradicionais) da Equipe Editorial. Mas onde eu já mencionei que a Equipe se recusa a publicar o material “porque querem se vingar de desavenças passadas”? (Note que eu dou um índice completo ao Qenya Lexicon de 1917, não apenas inglês-Qenya, mas na verdade Qenya-inglês também, embora esse material é tão primordial quanto é possível se obter.)
Verdade, o material primordial é menos relevante ao foco primário do meu próprio trabalho (incidentalmente, eu creio que o Thorsten recentemente acusou alguns de nós de depender fortemente no material do Noldorin quando reconstruindo o sistema verbal do Sindarin). Ainda assim eu compro toda nova publicação, não importa que estágio conceitual do élfico de Tolkien ela fale sobre.
O Parma Eldalamberon e o Vinyar Tengwar são jornais para pesquisa de lingüística tolkieniana. Não é óbvio para mim que há uma vasta maioria das pessoas fazendo as suas próprias pesquisas que dividem sua opinião. Pessoalmente, eu acho por exemplo que a Gramática Preliminar de Qenya no PE14 é tão interessante quanto o PE17.
Você é perfeitamente bem-vindo a cultivar quaisquer interesses que você queira, e eu não vou fazer declarações corajosas sobre “vastas maiorias” — mas eu suspeito que você está em uma minoria aqui. Não me entenda mal; nós definitivamente temos espaço para especialistas hardcore de qualquer tipo. Mas eu acho que posso presumir que aproximadamente TODOS nós estamos interessados no Quenya e no Sindarin em suas encarnações clássicas. ALGUNS de nós também estão interessados nas versões pré-clássicas de línguas e escritas, e (devo realmente dizer isto?) isto é um interesse perfeitamente legítimo. Ainda assim a decisão democrática seria para dar prioridade ao material que todos estamos interessados, e voltar ao material que é de interesse especial aos acadêmicos mais tarde.
Especialmente estudantes novos, cujo interesse inicial é provavelmente mais voltado aos fãs do que estritamente acadêmico, normalmente irão querer aprender o élfico da época do SdA – não os conceitos abandonados há muito tempo por Tolkien dos anos 1920 e até antes. É por isso que eu iria dar boas-vindas à publicação de material que permita a nós construir apostilas decentes de élfico do estilo do SdA, para que nós possamos cultivar esse interesse. Até muito recentemente, nós tínhamos de dizer às pessoas que em Quenya nós não sabíamos nem quais eram as formas principais do verbo ser/estar.
Eu estou ciente de que há uma comunidade maior interessada no neo-élfico, vocabulário e gramática do Sindarin e Quenya, e eu simpatizo com essa comunidade.
Ótimo. E se o número “maior” de leitores potenciais comprando o produto do trabalho da Equipe Editorial está interessado nessas coisas, seria tão ultrajante sugerir que a Equipe tivesse levado os interesses deles em conta desde o início?
Contudo, servir ao interesse do neo-élfico não é a tarefa que Equipe Editorial está incumbida de fazer ou o que fazem.
Quem disse que a publicação de material tardio visa apenas os escritores de neo-élfico? Até do ponto de vista puramente “acadêmico”, eu acho que a publicação de tais coisas como uma tabela pronominal completa deveria ser uma prioridade inicial da Equipe (sim, ainda mais que o ensaio adorável de Tolkien sobre como as crianças élficas chamavam seus dedos das mãos e dos pés). Nós poderíamos ter sido poupados de uma década de especulação ociosa sobre os desenvolvimentos conceituais em torno da revisão omentielmo/-lvo, por exemplo.
Também, até acadêmicos podem ter gostado de ter uma explicação tornando claro qual a função que o plural partitivo realmente tem, já que a forma era repetidamente exemplificada em nosso material, mas nunca realmente explicada. Mas nós tivemos de esperar uma década por isso também.
Nós ainda estamos esperando para algo tão elementar quanto uma tabela de mutações consonantais no Sindarin (em Parma 17, é indicado que esse material existe). Eu creio que é estranho que nós tenhamos tabelas de mutações para o “gnômico” de 1915, mas nem uma só para o infinitamente mais largamente publicado e mais conhecido Sindarin de períodos mais tardios.
O PE e o VT servem à comunidade de pesquisas e isso deveria determinar (e determina) o conteúdo e a apresentação.
Eu poderia perguntar onde esta “comunidade de pesquisa” realmente reside, se esta é para ser um grupo totalmente distinto daqueles com interesses em neo-élfico ou outros mais voltados a fãs (eu creio que para a maior parte de nós, nossos interesses são um tanto múltiplos e interligados).
Vamos colocar as coisas nesta perspectiva: Eu gostaria que você atualizasse seu artigo sobre o verbo em Sindarin na Ardalambion ao invés de publicar (mais uma) lista de palavras do Sindarin que eu não uso.
E eu não me ofendo que você o diga. (Contudo, eu espero que outros tenham achado a lista de palavras útil.) Para endereçar brevemente as tecnicalidades que você menciona: mudas não está na lista porque eu, na época, acreditava que era na verdade um substantivo “trabalho” ao invés do pretérito de um verbo (sim, eu deveria atualizar isto), e degant se mantém a forma mais curiosa e suspeita, com a metafonia da vogal raiz onde não há nada para causá-la. Incidentalmente, em Parma 17 nós temos madant ao invés de **medant para “comeu”.
Bem, quando você anuncia suas publicações – você vê pessoas reclamando de todas as partes que você está fazendo elas muito tarde, que você deveria ter feito as coisas diferentes e assim por diante? Eu acho que essa não é a maior parte do feedback que você recebe – então por que a Equipe Editorial deveria recebê-lo?
Na verdade eu recebo um bom número de pedidos para um curso de Sindarin, e eu tenho de dizer às pessoas que eu ainda não tenho informação suficiente para criar um (isto é aonde as tabelas de mutação não publicadas ajudariam…) De forma nenhuma eu me ofenderia se as pessoas viessem com sugestões para quais artigos eu deveria escrever. E se alguém dissesse que minhas atualizações são muito lentas, eu provavelmente teria de concordar (e não começar a reclamar quão ingratas as pessoas são por reclamar de mim ou de meu trabalho).
Mas minha situação não é exatamente comparável ao da Equipe Editorial. Meus artigos são meus próprios. O que nós precisamos da Equipe não é primariamente suas análises, mas o material de Tolkien.
Os detalhes são um tanto vagos, mas aparentemente este grupo falou com Christopher Tolkien e ativamente procurou o privilégio de ter a permissão de publicar os manuscritos lingüísticos do pai dele. Eles receberam. Eles se incumbiram da tarefa de publicar o material intimamente relacionado à autoria de um dos mais famosos contadores de história do século XX. Muito bem: Então eles também se incumbiram de uma tremenda responsabilidade moral de entregar o trabalho.
Se as coisas estão indo lentas (em algumas ocasiões, até mesmo os membros da Equipe admitem que eles gostariam de ter feito melhor progresso), eles deveriam trazer mais pessoas para dentro do projeto.
Talvez algumas pessoas na verdade achem a poesia élfica
primitivamais antiga interessante?Sem dúvida algumas pessoas acham poesia élfica mais antiga interessante. Mas é altamente provável que as mesmas pessoas deveriam também estar interessadas em poesia élfica tardia, ou na verdade qualquer texto tardio. E então o número maior de pessoas seriam servidas se o material tardio fosse publicado primeiro.
[E]u apenas preciso olhar para a reprodução dos originais de Tolkien […] para apreciar o trabalho árduo de decifrar tudo – sem mencionar criar um índice e formas de referência cruzada para que eu não tenha de lembrar em que contexto eu vi uma forma similar.
Tornar os textos disponíveis em formato eletrônico, procurável serviria ao mesmo propósito. Mas eu não sei se a Tolkien Estate aprova. Será que a Equipe Editorial algum dia perguntou a eles?
Bem – você mencionou que reescrever documentos do tamanho de livros é tedioso – por que você não recruta alguém para ajudar você?
Se alguém se sentir com vontade e apto a compilar listas de passagens em meus artigos da Ardalambion que deveriam ser atualizados, eu estou mais do que feliz em recebê-las. Mas já que as fontes que eu tenho de verificar estão disponíveis a outros também, não é como se eu tivesse uma responsabilidade pessoal especial de trazer essa informação ao público.
A Equipe Editorial, por outro lado, se senta nas únicas fontes não disponíveis para qualquer outra pessoa, e eles por vontade própria e deliberadamente se colocaram em uma posição onde toda a responsabilidade para publicar esse material está entre eles. (Como eu disse, eu estaria perfeitamente a vontade para aceitar a ajuda de outras pessoas, mas eles aparentemente não aceitam novos membros dentro da equipe.) Ninguém impôs esta tarefa sobre eles; eles a procuraram. Novamente: eles deveriam se sentir obrigados a entregar o resultado!
Como acontece neste momento, eles realmente publicaram uma quantidade substancial de material agora, e finalmente o Parma até apresentou material que é realmente relevante à versão clássica dos mitos. Eu recepciono isto bem. Se não apenas a edição nº 17, mas o número total de páginas nos Parmar 13-17 tivessem sido devotados ao material tardio, começando talvez com escritos mais ou menos contemporâneos às Etimologias, eu creio que nós iríamos ter agora a maior parte dos escritos tardios. Eu acho que é um tanto inconcebível que qualquer pessoa estivesse pedindo por runas valmáricas e gramáticas gnômicas neste meio tempo. E então, tendo exaurido o que pode ser decifrado do material tardio (alguma parte dele é aparentemente ilegível), a Equipe Editorial poderia ter voltado e completado a lacuna entre os primeiros léxicos e as Etimologias.
Desta maneira poderia ter sido feito, e presumindo uma cadência decente de publicação, as controvérsias teriam sido evitadas. Neste ponto, qualquer coisa do élfico dos filmes até vários materiais da internet teriam sido muito melhores do que jamais poderiam ter sido extrapolados dos fragmentos do material que nós tradicionalmente tivemos de trabalhar a partir de.
Então eu reservo o direito de perguntar (ou ao menos pensar algo) se a Equipe Editorial finalmente veio a realizar que seu plano original de publicação cronológica não era a melhor abordagem afinal de contas. Se o Parma 17 traz um esquema novo e mais flexível, eu certamente não seria o único a receber esta mudança na política de braços abertos.
Ótima colocar essa discussão da Elfiling diponível em português aqui. Tenho acompanhado a lista desde que você me indicou, é sem dúvidas uma ótima fonte de informação. Creio que Helge tenha sido um tanto indelicado com você, ainda mais “jogando na cara” o auxílio que deu. Não sei se é da índole dele, mas sempre achei ele um tanto sarcástico demais quanto as opiniões contrárias as suas (não que eu condene o sarcasmo, ou adepto, mas tudo tem seu limite).
Sou da opinião de que a Equipe Editorial, realmente poderia usar a ordem cronológica inversa do material, nas suas publicações, mas daí a ficar nessa crucificação sem fim é demais.
Ótima colocar essa discussão da Elfiling diponível em português aqui. Tenho acompanhado a lista desde que você me indicou, é sem dúvidas uma ótima fonte de informação. Creio que Helge tenha sido um tanto indelicado com você, ainda mais “jogando na cara” o auxílio que deu. Não sei se é da índole dele, mas sempre achei ele um tanto sarcástico demais quanto as opiniões contrárias as suas (não que eu condene o sarcasmo, ou adepto, mas tudo tem seu limite).
Sou da opinião de que a Equipe Editorial, realmente poderia usar a ordem cronológica inversa do material, nas suas publicações, mas daí a ficar nessa crucificação sem fim é demais.
Não me importo com indelicadezas: o direito de resposta é importantíssimo para mim, e não deixaria de garantir a quem quer que seja.
Com relação ao sarcasmo, disse a ele que mesmo sendo uma forma de humor, é importante que a pessoa tenha tato para perceber quando o seu humor não é bem recebido. Se for humor.
Não me importo com indelicadezas: o direito de resposta é importantíssimo para mim, e não deixaria de garantir a quem quer que seja.
Com relação ao sarcasmo, disse a ele que mesmo sendo uma forma de humor, é importante que a pessoa tenha tato para perceber quando o seu humor não é bem recebido. Se for humor.