Arquivo da tag: adjetivo

Usando o possessivo como meio para associar um substantivo ao outro

Na discussão sobre a qual fiz alusão em um post anterior surgiu uma bela ferramenta para quem ainda está tendo problemas em compreender o caso possessivo-adjetivo na forma de uma dica do Thorsten Renk:

Tente traduzir o possessivo como “associado com” — então lambe Eldaiva é “a língua associada com os elfos”, Taurë Huinéva é “a floresta associada com as trevas”, Nurtalë Valinóreva é “o ocultamento associado a Valinor” e laman Ranaewendeva é “o animal associado com Ranaewen”…

Você pode ver mais sobre o caso possessivo-adjetivo no Curso de Quenya e uma breve passagem no meu resumo.

Vinyar Tengwar 49: “Usual”, “Lugar de Descanso”, mais sobre “antes” vs. “depois”

Na lista Lambengolmor, o membro Fredrik Ström, da Suécia, discute na mensagem 1011 uma forma interessante que aparece em VT49:22: o adj. senya “usual”.

Ele nota que o editor menciona sen- “deixar livre, libertar, deixar ir” como uma possível palavra relacionada, mas Fredrik imagina uma outra conexão: senda “descansando, em paz”, da raiz SED. Se houver tal conexão, senya poderia ter se desenvolvido nessa raiz por ser “o estado de algo que não é perturbado: o estado ao qual algo retorna quando deixado em paz”, diz Fredrik. Em uma nota editorial no e-mail, Patrick Wynne — o autor do artigo no VT49 — diz que um dos membros do painel de revisão mencionou tal conexão, e que ele sente que deveria ter mencionado a possibilidade de senya vir de SED.

Fredrik tenta fazer uma conexão de senya com sennui na King’s Letter com a qual Patrick não concorda, mas no meio do raciocínio ele nota em A Reader’s Companion p. 523 o nome Sennas Iaur “Velha Casa de Hóspedes”, que pode vir da raiz SED. Fredrik arrisca uma reconstrução em Quenya *sendassë, com o sentido de “lugar-de-descanso” (ing. resting-place) que Patrick achou “bem provável”.

Fredrik menciona a questão do “antes” vs. “depois” em élfico. Notando que epe é “antes” (espacialmente) ou “depois” (temporalmente) como apresentado em VT49:12, ele lembra de apa que aparece “antes, no tempo” e “após, (depois de)” em VT44:36. No ensaio “Quendi and Eldar (XI:387), há o Q. apanónar ‘pós-nascidos’ perto do S. aphad- ‘seguir’ ap-pata ‘andar atrás, em uma trilha ou caminho’.”

A parte interessante? Se a semântica for a mesma em Quenya e Sindarin, e também apa/epe sejam apenas variantes de uma raiz, em um momento “seguir” significaria “estar atrás”, enquanto em outro estágio do desenvolvimento externo significaria “estar à frente”! Isso é explicado por Patrick: para que você possa seguir alguém, você precisa estar fisicamente atrás de alguém, enquanto temporalmente à frente desse alguém.

A maneira que a mente de Tolkien funcionava era muito interessante. (Sem sarcasmo.)

Resumo do Curso de Quenya: Lição 12

O Possessivo

O caso possessivo indica a posse de uma coisa por um indivíduo (ex.: Róma Oroméva “Trompa de Oromë”). Ele também pode indicar o que caracteriza algo ou alguém (ex.: Taurë Huinéva “Floresta da Obscuridade”; o adjetivo huinë caracteriza taurë).

O caso é formado ao adicionar-se a desinência -va em palavras que terminam em vogais e -wa naquelas que terminam em consoantes. No plural, utiliza-se -iva.

Digno de nota é: “Se a desinência -va for adicionada a um substantivo de pelo menos três sílabas que termine em uma vogal, e as duas últimas sílabas forem curtas, então a vogal final é alongada antes da desinência casual ser adicionada, de modo que ela atrai a ênfase: a forma possessiva de Oromë é portanto Oroméva (e não **Oromeva). Por alguma razão, tal alongamento também ocorrerá se o ditongo ui ocorrer na penúltima sílaba do substantivo; a forma possessiva de huinë ‘obscuridade, sombra profunda’ é, assim, huinéva.” (Curso de Quenya, p. 212)

Substantivos Verbais ou Abstratos

Substantivos verbais, como o nome diz, são aqueles derivados de verbos. Eles podem ser formados adicionando-se as desinências -më, -lë, -ië e ao verbo desejado. Um exemplo é linda- “cantar” + -lë formando o subst. lindalë “canto, música”.

Muito importante! Os casos genitivo e possessivo interagem com substantivos abstratos desta forma:

  • Combinando um substantivo verbal com um substantivo no caso genitivo, o substantivo com o caso genitivo é o sujeito da frase. Ex.: Altariello nainië “Lamento de Altariel” (Altariel é quem faz o lamento).
  • Ao fazer agora a combinação de um substantivo verbal com um substantivo no caso possessivo, o substantivo com o caso possessivo é o objeto da frase. Ex.: Nurtalë Valinóreva “Ocultação de Valinor” (Valinor está sendo ocultada pelos Valar, e não o contrário, portanto ela é o objeto).

Resumo do Curso de Quenya: Lição 4

Adjetivos

Os adjetivos do Quenya podem estar em duas posições na frase, sem comprometer o sentido da mesma:

  • Antes do substantivo (o mais comum). Ex: luini tellumar, lit. “azuis abóbadas”;
  • Depois do substantivo. Ex: anar púrëa lit. “sol ofuscado”.

Os adjetivos também concordam em número com o substantivo (mas não em gênero).

Por fim, os plurais são formados da seguinte forma:

Singular Plural Exemplo
-a alta “grande” ? altë “grandes”
-ëa -ië úmëa “mau” ? úmië “maus”
-i carnë “vermelho” ? carni “vermelhos”
-in *-ini¹ firin “morto” ? firini “mortos”

1. O final *-ini é extrapolado, nunca tivemos um exemplo que indicasse o verdadeiro plural dos adjetivos terminados em -in.

Verbo de Ligação

O verbo de ligação nada mais é do que o infame “verb to be” do inglês, que em português é representado por dois verbos diferentes: ser e estar. Ele une substantivos e adjetivos (i parma ná carnë “o livro é vermelho”), e também pode ser utilizado para comparar dois substantivos (parmar nar nár engwi “os livros são objetos”). As formas desse verbo no presente são:

  • — singular: “é, está”;
  • Nar Nár — plural: “são, estão”. Nota: No VT49 nár aparece, junto a várias outras formas do verbo ser/estar; por isso recomendo o uso desta palavra com a vogal longa.

O verbo de ligação geralmente está entre as duas palavras que ele une ou compara, mas pode estar após as mesmas ou até mesmo omitido, sem causar mudança no sentido da frase. Ex:

  • Feanáro ná Noldo;
  • Feanáro Noldo ná;
  • Feanáro Noldo.

resultarão em frases de mesmo sentido: “Fëanor é um Noldo”. Contudo, no último exemplo a frase também pode ser compreendida como “Fëanor, o Noldo”, então é necessário utilizar essa flexibilidade para a melhor compreensão da frase.