Tolkien criava línguas pelo puro prazer que a atividade lhe dava. Este prazer vinha, mais do que tudo, da necessidade estética que Tolkien sentia: a sua língua dos sonhos precisava ser bela, antes mesmo de possuir uma gramática elaborada. Isto torna as línguas élficas fundamentalmente diferentes do Esperanto e do Klingon.
Contudo, Tolkien não está sozinho em seu “vício secreto”, como fica evidente pela mensagem 33738 da lista Elfling escrita por Olga (nick “rikkuras_del_mas_alla”):
Olá!
Eu pensei sobre a idéia de criar novas línguas élficas com diferentes sabores¹, incluindo as não-européias. Eu sei que houveram algumas tentativas, mas elas são todas européias ou germânicas em sabor. Eu sugiro os seguintes estilos:
- Francês ou outra românica
- Grego (mais que o Quenya)
- Eslavo ou báltico
- Indo-ariano ou dravídico
- Nativo americano (embora esta seja muito vaga)
- Austronésio (pode ser malaio/indonésio, filipino ou polinésio)
- Africano (bantu)
- Japonês ou coreano
- Chinês (embora eu ache que este seria muito difícil)
- Gaélico
- Húngaro
- Altaico
- Caucasiano (embora eu não sei…)
- Sumério (embora este também eu não conheça muito)
São vários, não são?
Logo haverão mais!
Saudações,
Olga
Respostas
Na mensagem 33739, Matthew Dinse responde que já houveram tentativas de criar novas línguas a partir das raízes do proto-Eldarin e que algumas das sugestões já foram realizadas por Tolkien. Ele lista o Telerin como de “sabor” italiano e o Naffarin (língua da juventude de Tolkien) como influenciado pelo latim e espanhol, o que supre as necessidades do “sabor francês e românico”. Quanto ao indo-ariano, na mensagem 846 da lista Lambengolmor Bertrand Bellet discute as semelhanças entre o Adûnaico e o sânscrito. Quanto ao gaélico ele nota o desgosto de Tolkien pela língua (ele fala que ia “freqüentemente à Irlanda [Eire: Irlanda Meridional], sendo apreciador dela e [da maioria] de seu povo; mas a língua irlandesa considero totalmente sem atrativos.” [Cartas: 275]); contudo alguns argumentam que a língua da Terraparda é semelhante ao gaélico (ver mensagem 33074 de “shanearda” e uma divertida brincadeira lingüística resultante na mensagem 33397). Por último, o Valarin possui algumas pitadas da fonologia suméria, segundo Dinse.
“Melroch ‘Aestan confirmou a Olga em 33742 que, realmente, as pessoas já tentaram isso antes. Ele mesmo tentou criar uma língua élfica com “sabor” Avestano/Ariano, mas que (em sua opinião) felizmente o disco onde esta língua estava gravada quebrou, pois sua compreensão da fonologia dessas línguas “desenvolveu-se consideravelmente desde então”.
Contudo, Melroch (que é Phillip/Felipe em Sindarin, aliás) fez uma ressalva sobre o processo colaborativo na criação dessas línguas-modelo: em sua opinião tais tentativas levam a discussões sobre detalhes de design, e que é muito mais divertido deixar cada um criar seu próprio “dialeto” ou ramo.
Por fim, David Salo (criador dos diálogos para os filmes d’O Senhor dos Anéis e do controverso A Gateway to Sindarin) diz na mensagem 33751 que em seus arquivos há diversos rascunhos de línguas élficas “e-se”. Alguns rascunhos, ele diz, são bem estensos. Salo falou que encara a criação dessas línguas como um jogo que “tende a fixar a estrutura e fonologia do Eldarin e a língua-modelo de maneira forte na mente de uma pessoa”. Entre suas tentativas há o grego antigo, francês, iídiche e o pali.
Salo cita mais alguns exemplos de “sabores” que Tolkien experimentou: o dialeto Daniano e Leykviano são baseados no inglês antigo e nórdico antigo respectivamente.
Além dessas respostas, houveram mais duas mensagens por Olga, uma direcionada a Matthew Dinse e outra a direcionada a David Salo, mas ambas não contribuíram muito para a discussão até o momento.