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Grupo da Elfling trancado, fórum substituto criado

No dia 11 de setembro, a lista de discussão Elfling foi fechada pelo seu criador, David Salo, devido a “questões técnicas” — o que significa, basicamente, que ele não gostou do novo layout da Yahoo! Grupos. Eu não reportei o assunto porque não sabia se seria algo temporário ou não, mas parece que a transição para um fórum é permanente, e a nova Elfling pode ser encontrada em http://elfling.midgardsmal.com. Para participar, é necessário se registrar e cada mensagem nova deve aguardar aprovação da moderação.

Em quase dois meses de fórum, nenhuma discussão nova foi criada, mesmo com o lançamento do Parma Eldalamberon 20. Eu sempre preferi fóruns a listas, mas por experiência própria eu sei que quem participa de um não costuma participar de outro. O tempo vai dizer se a transição foi uma boa ideia ou não.

Cardolan

O bacana das línguas élficas é que você pode ser um detetive linguístico, como Tolkien era: sendo perito no dialeto das West Midlands de inglês médio, parte do seu trabalho era buscar a origem das palavras. Nessa tradição, Roger Clewey fez a análise do nome do antigo reino de Cardolan, onde as Colinas dos Túmulos e Bri se encontram n’O Senhor dos Anéis.

Roger aponta que a clássica análise de Robert Foster, em A Guide to Middle-earth, de que Cardolan significaria “País das Colinas Vermelhas” não se encaixa muito bem no uso que Tolkien fazia de um dos elementos propostos:

NDOL (Q. dola, N. & S. dol) tem o significado de “cabeça” e, quando aplicado a topônimos, geralmente se refere a uma única colina ou montanha (Dolmed, Mindolluin, Dol Amroth, etc.) e não a uma série de colinas (S. emyn).

Então, ele sugere que as três raízes abaixo formam a palavra Cardolan:

  • KAR- fazer, construir. Q. kar (kard-) construção, casa; N. car casa, também carð.
  • DUL- esconder. N. doelio, delio, e doltha esconder, pret. daul, p.p. dolen escondido, secreto. Cf. Gondolind, ‑inn, ‑in “coração da rocha secreta”.
  • -and – sufixo utilizado costumeiramente em nomes de regiões e países.

Com esses três elementos, o significado seria “local/terra das casas escondidas”. Diz Roger:

Tanto no Akallabêth e n’O Retorno do Rei, as tumbas dos mortos são descritas como “casas” na tradição funeral númenoriana/dúnedain. “Escondidas” parece ser adequado, já que os túmulos se encontravam dentro de montes (S. sing. torn, pl. tyrn). O sufixo geográfico ‑an(d) produz a localização e completa a palavra.

Listas de palavras Quenya-Inglês atualizadas na Ardalambion

O título diz tudo. Abaixo segue a tradução do e-mail de 3 de maio de 2012 do Helge para a lista Elfling:

Eu fiz o upload da versão atualizada das listas de palavras Quenya-Inglês:

http://folk.uib.no/hnohf/quen-eng.doc

Eu adicionei um número de palavras do Qenya Lexicon que eu usei nas minhas traduções da Bíblia, e finalmente fiz um número de correções baseadas nas notas que a Valeria Barouch me enviou a um tempo atrás.

Uma palavra que está faltando é hep- *”manter”. Foi recentemente mencionada aqui [na Elfling] também. É atestada, mais ou menos, no Qenya Lexicon, mas no material antigo significava “prender”. O significado tardio (provável) “manter” é deduzido do Sindarin heb- e a raiz KHEP usada em material tardio com esse sentido, mas há ao menos alguma sobreposição semântica potencial entre “manter” e “prender”.

A alguns meses atrás eu também consegui algumas correções do Francesco Veneziano sobre meu curso de Quenya, que eu me sinto mal de não as ter implementado ainda, mas estejam certos que eu aprecio elas e corrigirei os problemas… eventualmente.

A lista de palavras Inglês-Quenya também precisa de muita revisão para refletir a quantidade de material no Parma 17 em particular, mas ao menos as palavras já estão na lista Quenya-Inglês (link acima). A terminologia linguística dos Parmar 18 e 19 ainda estão faltando em ambas as listas.

Raízes consonantais em -r

O estudioso norueguês Helge Fauskanger traz uma teoria interessante sobre o pretérito de raízes que terminam em -r:

PE17:168 permite um novo insight em uma das classes de verbos.

Tolkien lista alí a raiz SRIS, significando “neve”, da qual o presente hríza “está nevando” deriva (Quenya exílico *hríra). Então ele dá o pretérito como hrinse, ou o mais tardio hrisse (o editor não tem muita certeza sobre essa última forma, mas ela faz sentido fonologicamente).

Isto tem suas implicações para o verbo hlar- “ouvir”, que supostamente vem da raiz SLAS. Eu anteriormente presumi que o pretérito seria simplesmente hlazne > hlarne, e esta é a forma que o primitivo *slasne resultaria em Quenya […] Mas se os verbos primários terminando no S original recebessem a infixação nasal antes desse “S”, ao invés de receber a desinência fraca simples ne depois dele, a combinação resultante ns produziria o Quenya ss. […]

Talvez nós devamos distingüir três subgrupos de raízes consonantais em -r:

  1. Aquelas onde o R era original: car- “fazer” da raiz KAR, tir- “observar” de TIR e assim por diante. Aqui o pretérito parece ser formado simplesmente ao adicionar -ne (relativamente bem atestado: carne “fez”, merne “desejou”, querne “virou”, tarne “pôs-se de pé” tirne “observou”, turne “controlou”).
  2. Aquelas onde o R vem do D original (via Z), onde a consoante original é preservada seguindo o infixo nasal no pretérito: rer- “colher”, pret. rende porque a raiz é RED (Etymologies), yor- “confinar”, pret. yonde porque a raiz é YOD (PE17:43). Presumivelmente os verbos hyar- “rachar”, nir- “pressionar” e ser- “descansar” também pertemcem a esta classe (raízes SYAD, NID, SED), embora Tolkien não tenha mencionado suas formas no pretérito.
  3. Aqueles onde o R vem do S original (novamente via Z). Estes seriam *hrir- “neve” (apenas atestada na forma arcaica *hirz-), pret. hrisse para *srinse, e então talvez também hlar- “ouvir”, pret. hlasse (para *slanse).

O alemão Thorsten Renk sugere que sejam contabilizados os exemplos com alongamento de vogal:

  • #ohtakar- “fazer guerra” pret. ohtakáre (SD:246)
  • yor- “confinar” pret. yóre (PE17:43)

O fato que ambos †yonde e yóre são dados como pretéritos em PE17:43, e que yonde é marcado como “poético ou arcaico” é interessante, porque aponta para que yóre seja o pretérito por analogia — mas analogia com o quê? Alguém poderia imaginar que há um grande número de exemplos de verbos em -r para os quais o alongamento das vogais era normal — possivelmente os cuja raiz já possuía -r. E isto vai perfeitamente de encontro ao pretérito cáre (PE17 tem mais alguns outros pretéritos com alongamento de vogal na raiz, mas nesta fonte em particular Tolkien cita o pretérito como carne (PE17:144). Contudo, ambos podem ter coexistido).

Helge replicou hoje ao e-mail de Thorsten:

Essa maneira de formar o pretérito […] foi atestada primeiramente em unduláve no Namárië. […] Eu tradicionalmente presumi que seu papel no Quenya do estilo do SdA era bem limitado, mas há realmente evidências se acumulando de que ela ainda era proeminente, e eu venho revisando meus conteúdos de acordo.

Alguns exemplos citados por Helge durante seu e-mail foram:

  • tul- “vir”, pret. túle (sem fonte, mas ao dizer que era antiga eu imagino o Qenya Lexicon);
  • mel- “amar”, pret. méle (QL:60);
  • mol- “trabalhar”, pret. móle (PE17:115);
  • yam- “gritar”, pret. yáme (QL:105);
  • sam- “ter”, pret. sáme (PE17:173).

Não é exatamente a mesma língua

Há quase um mês, houveram duas grandes discussões na Elfling, uma delas envolvendo, como não poderia deixar de ser, Helge Fauskanger e a Equipe Editorial. A discussão em si não é o assunto deste post, mas sim uma mensagem do estudioso americano Carl Hostetter.

Resumindo, o Helge desafiou qualquer um a mostrar onde três frases em neo-Quenya demonstram não ser da mesma língua inventada por Tolkien. As frases sendo:

  1. I Elda lende i ciryanna “O elfo foi para o navio”.
  2. Andanéya i Naucor hirner malta i orontissen “há muito tempo atrás os Anões acharam ouro nas montanhas.
  3. Cenuval nér nóra i taurello i ostonna “Você verá um homem correr da floresta para a cidade”.

Hostetter aceitou o desafio, analisando essas frases da seguinte forma:

I Elda lende i ciryanna “o Elfo foi para o navio” [N.T. ing. “the Elf went to the ship”]: Aqui e em cada uma dessas sentenças, o uso do artigo definido segue precisamente o original em inglês. As composições em Quenya de Tolkien obviamente não o fazem, e de fato o usam um tanto menos que o inglês. Portanto, de partida essas sentenças revelam o uso da sintaxe inglesa, ao invés da do Quenya, neste ponto.

Andanéya i Naucor hirner malta i orontissen “long ago the Dwarves found gold in the mountains” [“há muito tempo os Anões encontraram ouro nas montanhas”]: Primeiro, (i) Naucor significa “(os) Anões (em geral ou sob discussão)”, não “os Anões como um povo”, como é requerido neste contexto. Então o coletivo Naukalie deveria ser utilizado, e o uso indiscriminado de Naucor aqui demarca esta sentença como sendo derivada do inglês. Segundo, até onde eu lembre, o caso locativo sempre indica “at” ou “on” (até na tradução de Tolkien, onde a língua inglesa utilizaria “in”, o sentido não é “inside”, mas “upon”: e.g. súmaryasse “in her (the ship’s) bosom” [“em seu (do navio) seio”] não significa inside, mas on;¹ enquanto ear-kelumessen não significa inside, i.e. immersed in the sea, mas sim upon). Ao invés disso, “inside” e “within” são sempre expressos com preposições, geralmente com mi.² Este é o sentido aqui, e então por isto apenas esta tradução é reconhecível como um Quenya provavelmente incorreto. (Eu gostaria também de perguntar por que hir- deveria formar seu pretérito com -ne, e não com um pretérito forte (*híre)? KHIR- parece ser um verbo básico. Além disso, por que não tuv-, que em seu uso atestado parece ser mais próximo em significado do que o uso atestado de hir-?

¹ Note que esta expressão vem provavelmente de Beowulf, linha 35: “on bearm scipes, onde a expressão literal“on (the) bosom of (the) ship”. Até hoje, embora o idioma inglês necessite de “in one’s bosom”, quando nós dizemos isto não necessariamente queremos dar o sentido de dentro do seio de alguém, ou todos os bebês “in its mother’s bosom” estariam fisicamente dentro do tórax da mãe!

² Um possível contra-exemplo, símaryassen “in their imaginations” [port. “em suas imaginações”] notavelmente se refere a uma entidade não-física, não à localização física, e então apesar do fato que o idioma inglês requer “in” para soar natural, isto não indica necessariamente que o idioma élfico tinha a mesma interioridade física que o inglês; pode ser literalmente passada como “(up)on” their imaginations. Note o inglês “on my mind” do que está ocupando (residindo dentro [ou seja, “in”] dos pensamentos de alguém.

Cenuval nér nóra i taurello i ostonna “You will see a man run from the forest to the city”. Eu noto que com exceção da primeira pessoa do singular -n, não há excemplos de desinências pronominais curtas no final de verbos no futuro (ao invés disso nós temos -lye, -nte); então cenuval aqui se mostra possivelmente incorreto.

Asfaloth

Asfaloth, interpretado por Florian É claro, muita gente deve conhecer a cena: O “jovem” Frodo (Você sabia que Frodo tinha 50 anos de idade na Guerra do Anel? Tamanho não é documento…) sendo perseguido por nove Espectros do Anel a cavalo em um bosque, dependendo apenas da velocidade do cavalo em que está montado para sobreviver.

O cavalo era Asfaloth, cujo dono era Glorfindel (nos livros; Liv “Arwen” Tyler nos filmes), e o significado de seu nome é uma incógnita até hoje. Não no nível de “balrogs têm asa?”, mas chega perto. De uma forma ou de outra, coube a Bertrand Bellet uma nova tentativa de explicar esse nome na mensagem 1005 da lista Lambengolmor.

Continue lendo Asfaloth

Elfling: Qualidade do élfico dos filmes do SdA (Parte 2)

Esta é a segunda parte da discussão sobre a qualidade do élfico dos filmes d’O Senhor dos Anéis. Se você não leu a primeira parte, pode acessá-la por este link.

Na mensagem 33732, Bill Welden (membro da E.L.F.) escreveu (todas as ênfases são minhas):

Então, Matthew. Digamos que [Peter Jackson et alii] conseguissem que o próprio Tolkien fizesse as traduções; mas mantivessem sua participação secreta.

Qual você supõe que seria sua avaliação da qualidade das traduções? (Note que haveria mais do que algumas palavras que nós nunca vimos antes.)

Assim como nós iríamos ouvir muitas novas palavras e funções gramaticais e variações dialetais e sinônimos (por que não podem existir duas palavras para “nome”?) – e até mesmo erros – se nós pudéssemos escutar por trás das portas a elfos de verdade falando uns com os outros.

Minha maior esperança para o filme circulava em torno da possibilidade que ele iria criar a impressão de realmente ter sido rodado na Terra-média.

– Bill

P.S.: Eu lanço esta questão neste ângulo pois vai ao núcleo do que fazemos aqui. O padrão pelo qual composições em élfico são julgadas tem um quê das Novas Roupas do Imperador. Isto pode começar a ficar claro se alguém colocasse esse padrão em palavras.

Em outras palavras, Bill Welden fez uma pergunta que assombra os praticantes do Neo-Élfico há muito tempo: como julgar essas novas composições como “corretas” se o próprio Tolkien quebrava suas regras quando compunha?

Seguindo um pedido de Helge Fauskanger na mensagem 33740 para clarificar a sua metáfora, Welden decide utilizar uma metáfora mais fácil de explicar:

[E]stamos todos procurando por gemas em um grande campo, mas somos castigados sempre que nos distanciamos demais do ponto central do campo. O que acontece é que, ao invés de tentar encontrar as gemas nós estamos mais interessados em garantir que não seremos aquele que estará mais longe do centro; mas ao fazê-lo torna-se muito menos provável que encontremos algo.[…]

[…]O campo são todas as possibilidades que Tolkien poderia seguir com o Quenya. O centro do campo é a forma mais provável de qualquer palavra ou função. As gemas são as composições que ele eventualmente faria se fosse dado tempo para as geleiras descerem mais uma vez em Bornemouth.

Tolkien era quase sempre surpreendente em suas composições. Por outro lado, qualquer um que se foque em qual seriam as formas mais prováveis, está na verdade se dando a tarefa de não ser surpreendente; e isso garante que eles sairão com algo diferente do que Tolkien produziria.

Welden finaliza explicando sua primeira metáfora:

Aqui é onde tudo sai dos trilhos: é a presunção de que o Quenya existe e tem guardiões da gramática prontos para cortar dedos.[…]

As roupas do imperador, eu suponho, são as regras do Quenya. Nós não as sabemos. Você [Helge] não as conhece, embora quase todos aqui pensem que você sabe. Eu não as conheço, mesmo que algumas pessoas achem que eu tenho um baú secreto. Mas o maior mito é que Tolkien as conhecia.

E então o imperador deve ser Tolkien. Tolkien não tinha uma gramática de Quenya. Sou eu que preciso dizer isto? Tolkien não tinha uma gramática de Quenya. […] [E]le tinha permissão para modificá-la, e isto é aparente em seu trabalho.

Para quem está com medo de que o mundo lingüístico tolkieniano comece a ruir, não tema! 🙂 Welden garante que não está advocando em prol do “vale-tudo” nas línguas élficas. “Em um extremo, cada um de nós tem um julgamento que cada composição nós encontramos; mas há algumas pessoas para as quais o élfico da Grey Company está bem!” e que o que ele deseja “não são palavras em élfico amarradas umas às outras; mas uma Experiência do élfico que eu consegui através de Tolkien em primeiro lugar.” (Elfling 33768) Em troca, Welden pergunta a Thorsten Renk (escritor do Curso de Sindarin) qual é seu padrão para julgar as composições em Neo-Élfico. Ele responde na mensagem 33769:

Em minha experiência, se você quer introduzir alguém a uma língua, é útil manter a ficção de que existe uma gramática de Quenya (ou Sindarin) e que nós sabemos como uma forma seria flexionada.

[…]

Sua sugestão eu veria como um exercício avançado. Obviamente, para chegar mais perto de Tolkien, você já precisa ter visto muito de Tolkien, você precisa ter uma idéia para onde fluem suas idéias, quais eram bem quistas por ele e quais ele descartava facilmente. Poucas pessoas tem o conhecimento para ver isto, certamente uma minoria daqueles tentando compor em élfico. […] Se você me perguntar o que eu julgaria como “bom”, a primeira condição seria o núcleo da estrutura, as idéias que Tolkien não mudou, devem estar certas.

[…]

Então, hoje em dia eu tento experimentar um pouco mais – com as formas do pretérito que eu gosto melhor, com construções vistas em Qenya e coisas do tipo. Mas eu não recomendaria isto para qualquer pessoa, a não ser que ele(a) saiba por exemplo o esquema utilizado por Tolkien para construir palavras das raízes [do Proto-Eldarin].

[…]

Portanto há um caminho a trilhar enquanto se aprende mais, do élfico padrão a re-frasear e usar o élfico atestado até compreender os princípios para derivar suas próprias palavras e, por fim, ter uma opinião de que gramática élfica é aceitável para você, e o que eu acho que as pessoas deveriam fazer depende em onde elas estão neste caminho.

Na parte 3, as considerações finais.

Elfling: Qualidade do élfico dos filmes do SdA (Parte 1)

No dia 21 de dezembro, a mensagem 33718 da lista Elfling iniciou uma das mais extensas e divertidas discussões sobre o uso pós-Tolkien das suas línguas, rotulados de Neo-Quenya e Neo-Sindarin. Até hoje (6/1/2007) foram escritas 30 mensagens discutindo o tópico, 25 na lista Elfling, 5 na lista Elfling-D (esta última foi criada para aqueles que foram banidos ou censurados na Elfling). Os participantes incluem nomes ilustres, como David Salo (criador dos diálogos e das letras das músicas em élfico nos filmes d’O Senhor dos Anéis), Helge Fauskanger (criador do Curso de Quenya), Thorsten Renk (criador do Curso de Sindarin), Bill Welden, Carl Hostetter e Patrick Wynne (membros da Elvish Linguistic Fellowship, os dois últimos via Elfling-D).

A mensagem original é de “Kirsten”, reproduzida abaixo:

Eu sei que algumas pessoas já trabalharam duro para descobrir o que significam os diálogos e a trilha sonora¹ em élfico nos filmes d’O Senhor dos Anéis, mas já houve alguma discussão da qualidade das traduções para o élfico usadas nos filmes? Elas são de maneira geral corretas ou alguém já observou algum erro óbvio? Eu não sei sobre vocês, mas eu estou muito interessada nesse aspecto das traduções. Também, o que pode-se dizer das pronúncias? Eu realmente gostaria de ler uma discussão desses assuntos por um grupo de pessoas que conhecem bem as línguas de Tolkien.

Kirsten

Na resposta de Halrawrandir na mensagem 33720 o autor diz que “é necessário concordar” que as traduções foram as melhores possíveis. Contudo, Matthew Dinse na mensagem 33721 disse discordar, e listou “alguns problemas” do Sindarin nos filmes:

  • Uso de aen para voz passiva quando não sabemos qual é sua real função com certeza;
  • Uso de go como uma palavra separada e não um prefixo;
  • Formação do pretérito do Sindarin;
  • Uso de *-ch para “você”;
  • Gerúndios no plural;
  • Conjugação do verbo ista-;
  • Uso de *ae para “se”;
  • Uso de **hanna- como o verbo “agradecer” (ao invés de *anna-, segundo Carl Hostetter);
  • Uso de **ess para “nome”, embora eneth não houvesse sido publicado na época.

Desde essa mensagem de Matthew Dinse 26 outras foram escritas no tópico, criando três ramos diferentes de discussão.

Embora todas as mensagens possuam um valor imenso, manterei o foco apenas no terceiro ramo, criado por Bill Welden na mensagem 33732. O resumo será publicado na próxima mensagem, que você pode acessar por este link..

Fiquem ligados!


¹ Links adicionados pelo tradutor, por motivos de brevidade.

Elfling: Línguas élficas com “sabores” diferentes

Tolkien criava línguas pelo puro prazer que a atividade lhe dava. Este prazer vinha, mais do que tudo, da necessidade estética que Tolkien sentia: a sua língua dos sonhos precisava ser bela, antes mesmo de possuir uma gramática elaborada. Isto torna as línguas élficas fundamentalmente diferentes do Esperanto e do Klingon.

Contudo, Tolkien não está sozinho em seu “vício secreto”, como fica evidente pela mensagem 33738 da lista Elfling escrita por Olga (nick “rikkuras_del_mas_alla”):

Olá!

Eu pensei sobre a idéia de criar novas línguas élficas com diferentes sabores¹, incluindo as não-européias. Eu sei que houveram algumas tentativas, mas elas são todas européias ou germânicas em sabor. Eu sugiro os seguintes estilos:

  • Francês ou outra românica
  • Grego (mais que o Quenya)
  • Eslavo ou báltico
  • Indo-ariano ou dravídico
  • Nativo americano (embora esta seja muito vaga)
  • Austronésio (pode ser malaio/indonésio, filipino ou polinésio)
  • Africano (bantu)
  • Japonês ou coreano
  • Chinês (embora eu ache que este seria muito difícil)
  • Gaélico
  • Húngaro
  • Altaico
  • Caucasiano (embora eu não sei…)
  • Sumério (embora este também eu não conheça muito)

São vários, não são?
Logo haverão mais!

Saudações,
Olga

Respostas

Na mensagem 33739, Matthew Dinse responde que já houveram tentativas de criar novas línguas a partir das raízes do proto-Eldarin e que algumas das sugestões já foram realizadas por Tolkien. Ele lista o Telerin como de “sabor” italiano e o Naffarin (língua da juventude de Tolkien) como influenciado pelo latim e espanhol, o que supre as necessidades do “sabor francês e românico”. Quanto ao indo-ariano, na mensagem 846 da lista Lambengolmor Bertrand Bellet discute as semelhanças entre o Adûnaico e o sânscrito. Quanto ao gaélico ele nota o desgosto de Tolkien pela língua (ele fala que ia “freqüentemente à Irlanda [Eire: Irlanda Meridional], sendo apreciador dela e [da maioria] de seu povo; mas a língua irlandesa considero totalmente sem atrativos.” [Cartas: 275]); contudo alguns argumentam que a língua da Terraparda é semelhante ao gaélico (ver mensagem 33074 de “shanearda” e uma divertida brincadeira lingüística resultante na mensagem 33397). Por último, o Valarin possui algumas pitadas da fonologia suméria, segundo Dinse.

“Melroch ‘Aestan confirmou a Olga em 33742 que, realmente, as pessoas já tentaram isso antes. Ele mesmo tentou criar uma língua élfica com “sabor” Avestano/Ariano, mas que (em sua opinião) felizmente o disco onde esta língua estava gravada quebrou, pois sua compreensão da fonologia dessas línguas “desenvolveu-se consideravelmente desde então”.

Contudo, Melroch (que é Phillip/Felipe em Sindarin, aliás) fez uma ressalva sobre o processo colaborativo na criação dessas línguas-modelo: em sua opinião tais tentativas levam a discussões sobre detalhes de design, e que é muito mais divertido deixar cada um criar seu próprio “dialeto” ou ramo.

Por fim, David Salo (criador dos diálogos para os filmes d’O Senhor dos Anéis e do controverso A Gateway to Sindarin) diz na mensagem 33751 que em seus arquivos há diversos rascunhos de línguas élficas “e-se”. Alguns rascunhos, ele diz, são bem estensos. Salo falou que encara a criação dessas línguas como um jogo que “tende a fixar a estrutura e fonologia do Eldarin e a língua-modelo de maneira forte na mente de uma pessoa”. Entre suas tentativas há o grego antigo, francês, iídiche e o pali.

Salo cita mais alguns exemplos de “sabores” que Tolkien experimentou: o dialeto Daniano e Leykviano são baseados no inglês antigo e nórdico antigo respectivamente.

Além dessas respostas, houveram mais duas mensagens por Olga, uma direcionada a Matthew Dinse e outra a direcionada a David Salo, mas ambas não contribuíram muito para a discussão até o momento.


¹ Tolkien disse várias vezes que cada língua tinha um sabor, e que o seu contato com o finlandês “[f]oi como descobrir uma adega completa repleta de garrafas de um vinho estupendo de um tipo e sabor jamais provados antes. Em muito me embriagou” (Cartas: 206). De fato, existe uma palavra em Quenya para este elemento estético: lamatyávë “gosto pelo som”, alcançado no final do amadurecimento dos Elfos.