Arquivo da tag: Helge Fauskanger

O Novo Testamento em Quenya

Essa é uma notícia velha, mas que eu não dei muito destaque. Mea culpa.

De qualquer forma, o Helge Fauskanger, da Ardalambion, criou uma página dentro do site dele. Nessa página, ele vem lançando traduções do Novo Testamento para o Quenya.

O uso de textos bíblicos como base para traduções é comum, por motivos óbvios. Eu, particularmente, não sou cristão, mas acho extremamente importante a existência de um corpus de textos em prosa para que um estudante possa pegar o ritmo da língua. Mesmo que seja o Quenya do Helge, e não o Quenya do Tolkien.

Listas de palavras Quenya-Inglês atualizadas na Ardalambion

O título diz tudo. Abaixo segue a tradução do e-mail de 3 de maio de 2012 do Helge para a lista Elfling:

Eu fiz o upload da versão atualizada das listas de palavras Quenya-Inglês:

http://folk.uib.no/hnohf/quen-eng.doc

Eu adicionei um número de palavras do Qenya Lexicon que eu usei nas minhas traduções da Bíblia, e finalmente fiz um número de correções baseadas nas notas que a Valeria Barouch me enviou a um tempo atrás.

Uma palavra que está faltando é hep- *”manter”. Foi recentemente mencionada aqui [na Elfling] também. É atestada, mais ou menos, no Qenya Lexicon, mas no material antigo significava “prender”. O significado tardio (provável) “manter” é deduzido do Sindarin heb- e a raiz KHEP usada em material tardio com esse sentido, mas há ao menos alguma sobreposição semântica potencial entre “manter” e “prender”.

A alguns meses atrás eu também consegui algumas correções do Francesco Veneziano sobre meu curso de Quenya, que eu me sinto mal de não as ter implementado ainda, mas estejam certos que eu aprecio elas e corrigirei os problemas… eventualmente.

A lista de palavras Inglês-Quenya também precisa de muita revisão para refletir a quantidade de material no Parma 17 em particular, mas ao menos as palavras já estão na lista Quenya-Inglês (link acima). A terminologia linguística dos Parmar 18 e 19 ainda estão faltando em ambas as listas.

Curso de Quenya lançado (2ª edição)

Foi só eu falar e saiu: o Curso de Quenya, 2ª edição, está disponível para ser comprada no site da editora Arte & Letra através deste link. O preço é R$ 42,00, o que é mais barato do que eu esperava.

Para vocês que me perguntam como aprender élfico: é esse livro que vocês tem de comprar! Se não quiserem investir no livro, a outra opção é a versão em inglês disponível no site da Ardalambion.

De acordo com o que o Gabriel “Tilion” Brum escreveu nos comentários abaixo, a versão da Ardalambion em inglês é ainda a antiga.

Nova versão do Curso de Quenya quase saindo do forno

O ano que começou trará novamente o mundo de Tolkien para a mídia com a chegada d’O Hobbit aos cinemas.

Mas para nós, que gostamos das línguas, logo logo teremos o Curso de Quenya revisado em nossas mãos. O Curso foi para a gráfica no dia 02 de dezembro e o lançamento é só uma questão de tempo. Para ver quando ele ficará pronto, é só acompanhar o tópico da Valinor em: http://forum.valinor.com.br/showthread.php?t=94834

Conotações malignas

Uma dica interessante vinda de uma discussão na Elfling. Dia 6 de junho, C.L.H. Harding enviou uma mensagem perguntando qual seria a melhor forma de traduzir “Os Desapropriados”, um título para a Casa de Fëanor, para a língua mãe deles, o Quenya. Suas traduções seriam Úharyana e Alaharya.

No centro dessa questão estão dois prefixos: tanto ú- e al(a)- têm função negativa. Como escolher entre um e outro?

Uma dica do Helge Fauskanger: “O prefixo ú- expressa mais do que mera negação, ele muitas vezes tem uma conotação maligna.” Com base nisso, ele sugere Úharyalar.

Eu sugiro a leitura das outras mensagens daquela discussão àqueles que gostariam de mais informações. Você pode encontrá-las neste link.

Expressando a palavra “deveria”

Este é um problema com o qual eu mesmo me deparo de vez em quando: a palavra inglesa should “deveria” é complicada de se traduzir para o Quenya. Na mensagem 35305 da lista Elfling, o membro Herenvarno perguntou exatamente sobre isso. As soluções sugeridas foram:

Thorsten Renk:

Compulsão (obrigação, …) e liberdade da compulsão em élfico é consistentemente expressado através de construções impessoais. Nós encontramos exemplos em Noldorin, Sindarin, Qenya e Quenya. Portanto, uma pessoa não deveria usar apenas mauya ou ore — mas deveria também utilizar uma dessas construções, já que elas estão entre os poucos exemplos em que temos genuinamente ideia de como algo é expresso idiomaticamente em élfico…

A sugestão merece uma observação melhor do que posso dar agora.

Helge Fauskanger sugere algumas paráfrases:

“Você deveria vir ao banquete” = nauva mára qui tuluval i merendenna, “será bom se você vier ao banquete”, ou caruval mai tuliénen i merendenna “você fará bem ao vir ao banquete”.

Note que, em Quenya, não existe distinção entre futuro do pretérito e o futuro do presente: ambos são formados com a desinência -uva. Nauva pode ser traduzido, teoricamente, tanto como “será” quanto “seria”.

Atualização da lista Quenya-Inglês da Ardalambion

Como esperado, neste Natal a Ardalambion atualizou novamente a sua lista de palavras Quenya-Inglês — o Quettaparma Quenyallo (clique aqui para baixar).

Para quem, como eu, não havia percebido ainda, a Ardalambion está com um novo endereço: http://folk.uib.no/hnohf/

A Evenstar do site Ambar Eldaron enviou uma notificação para a Elfling dizendo que a sua versão em PDF está disponível aqui: http://www.ambar-eldaron.com/quen-eng.pdf

Não é exatamente a mesma língua

Há quase um mês, houveram duas grandes discussões na Elfling, uma delas envolvendo, como não poderia deixar de ser, Helge Fauskanger e a Equipe Editorial. A discussão em si não é o assunto deste post, mas sim uma mensagem do estudioso americano Carl Hostetter.

Resumindo, o Helge desafiou qualquer um a mostrar onde três frases em neo-Quenya demonstram não ser da mesma língua inventada por Tolkien. As frases sendo:

  1. I Elda lende i ciryanna “O elfo foi para o navio”.
  2. Andanéya i Naucor hirner malta i orontissen “há muito tempo atrás os Anões acharam ouro nas montanhas.
  3. Cenuval nér nóra i taurello i ostonna “Você verá um homem correr da floresta para a cidade”.

Hostetter aceitou o desafio, analisando essas frases da seguinte forma:

I Elda lende i ciryanna “o Elfo foi para o navio” [N.T. ing. “the Elf went to the ship”]: Aqui e em cada uma dessas sentenças, o uso do artigo definido segue precisamente o original em inglês. As composições em Quenya de Tolkien obviamente não o fazem, e de fato o usam um tanto menos que o inglês. Portanto, de partida essas sentenças revelam o uso da sintaxe inglesa, ao invés da do Quenya, neste ponto.

Andanéya i Naucor hirner malta i orontissen “long ago the Dwarves found gold in the mountains” [“há muito tempo os Anões encontraram ouro nas montanhas”]: Primeiro, (i) Naucor significa “(os) Anões (em geral ou sob discussão)”, não “os Anões como um povo”, como é requerido neste contexto. Então o coletivo Naukalie deveria ser utilizado, e o uso indiscriminado de Naucor aqui demarca esta sentença como sendo derivada do inglês. Segundo, até onde eu lembre, o caso locativo sempre indica “at” ou “on” (até na tradução de Tolkien, onde a língua inglesa utilizaria “in”, o sentido não é “inside”, mas “upon”: e.g. súmaryasse “in her (the ship’s) bosom” [“em seu (do navio) seio”] não significa inside, mas on;¹ enquanto ear-kelumessen não significa inside, i.e. immersed in the sea, mas sim upon). Ao invés disso, “inside” e “within” são sempre expressos com preposições, geralmente com mi.² Este é o sentido aqui, e então por isto apenas esta tradução é reconhecível como um Quenya provavelmente incorreto. (Eu gostaria também de perguntar por que hir- deveria formar seu pretérito com -ne, e não com um pretérito forte (*híre)? KHIR- parece ser um verbo básico. Além disso, por que não tuv-, que em seu uso atestado parece ser mais próximo em significado do que o uso atestado de hir-?

¹ Note que esta expressão vem provavelmente de Beowulf, linha 35: “on bearm scipes, onde a expressão literal“on (the) bosom of (the) ship”. Até hoje, embora o idioma inglês necessite de “in one’s bosom”, quando nós dizemos isto não necessariamente queremos dar o sentido de dentro do seio de alguém, ou todos os bebês “in its mother’s bosom” estariam fisicamente dentro do tórax da mãe!

² Um possível contra-exemplo, símaryassen “in their imaginations” [port. “em suas imaginações”] notavelmente se refere a uma entidade não-física, não à localização física, e então apesar do fato que o idioma inglês requer “in” para soar natural, isto não indica necessariamente que o idioma élfico tinha a mesma interioridade física que o inglês; pode ser literalmente passada como “(up)on” their imaginations. Note o inglês “on my mind” do que está ocupando (residindo dentro [ou seja, “in”] dos pensamentos de alguém.

Cenuval nér nóra i taurello i ostonna “You will see a man run from the forest to the city”. Eu noto que com exceção da primeira pessoa do singular -n, não há excemplos de desinências pronominais curtas no final de verbos no futuro (ao invés disso nós temos -lye, -nte); então cenuval aqui se mostra possivelmente incorreto.