Arquivo da tag: pronomes

Compreenda a história do pronome “nós” em élfico

O estudioso Roman Raush escreveu em seu site Sindanórië um artigo chamado Sobre as diferentes formas de “nós” em Eldarin. Quem lê este blog e já estudou o Quenya deve saber que há uma certa razão para estudar as formas da 1ª pessoa do plural em específico, de forma cronológica. Para quem não estudou, eu explico:

É difícil haver um tema mais discutido na lingüística tolkieniana do que os pronomes, ainda mais entre os compositores de neo-élfico. Antes do VT49 e do PE17 havia uma falta de informação sobre o assunto, e agora há uma abundância de exemplos e tabelas. Ocorre que, como Tolkien nunca escreveu uma gramática de Quenya atualizada até o pináculo de seu desenvolvimento em 1973, fica a critério do compositor decidir que funções gramaticais ele utilizará ou não em suas obras neo-élficas.

Ademais, a 1ª pessoa do plural no Quenya é diferente da que nós encontramos no português, inglês, e outras línguas mais conhecidas. Ela possui quatro formas distintas:

Inclusiva
Ela inclui a pessoa com quem falamos. Por exemplo, quando falo de você (leitor), um grupo de amigos meus, e eu (escritor) como “nós”, estou incluindo você no nós, e portanto em Quenya eu utilizaria o “inclusivo”.
Exclusiva
Ela não inclui a pessoa com quem falamos. Quando meu grupo de amigos e eu falamos para você sobre “nós”, o nós aqui é exclusivo, pois não estamos contando você entre “nós”.
Dual inclusiva
Quando falo “nós” no sentido de “nós dois, você e eu”, note que são apenas duas pessoas, e que estou lhe incluindo. Por isso que é “dual” e “inclusivo”.
Dual exclusiva
É quando falo “nós” no sentido de “nós dois, meu amigo e eu, mas não você”. Ou seja, eu estou excluindo a pessoa com quem eu falo do “nós”, tornando-o “dual” (pois são duas pessoas no “nós”), mas desta vez ele é “exclusivo”.

Há um ano atrás era fácil encontrar um padrão para a utilização dos pronomes pessoais para composições: seguia-se o paradigma estipulado por Helge Fauskanger em seu Curso de Quenya e pronto! Mas hoje há um outro Curso de Quenya, o Quetin i Lambe Eldaiva do Thorsten Renk, que contém informações mais novas do que o Curso do Helge, mas faz uma escolha diferente em seu paradigma de pronomes pessoais. Por fim, você pode também considerar o paradigma sugerido por Carl Hostetter na Wikipédia (e reproduzido aqui), que embora não seja criado com o neo-élfico em mente, pode ser adicionado a um comparativo.

Juntos, os três paradigmas dão as seguintes sugestões para a 1ª pessoa do plural:

Tabela 1: Comparação entre paradigmas da 1ª pessoa do plural em Quenya tardio.
Fauskanger Renk Hostetter
Inclusivo -lvë -lmë -lvë/-lwë
Exclusivo -lmë -mmë -lmë
Dual inclusivo -mmë -lvë/-ngwë -ngwe/-ince/-inque
Dual exclusivo -mmë

Como vocês podem ver, os três paradigmas concordam em alguns pontos e discordam em outros quase de forma aleatória, aos olhos de alguém que, ao contrário de Roman Rausch, não leu as fontes primárias dessas formas. Mas através do artigo do estudioso alemão, é possível ver os motivos por trás da escolha de cada um dos paradigmas:

  • Fauskanger, com menos fontes para trabalhar, preferiu as formas mais tardias conhecidas até o momento em que compôs o seu Curso. Contudo, na página 227 dele, você pode ler que o próprio Fauskanger utilizava um sistema parecido com o de Renk. No fim das contas ele utilizou uma tabela deduzida com os valores pós-1965 (quando a Segunda Edição do SdA foi publicada, onde omentielmo virou omentielvo).
  • Renk, com mais material para trabalhar, decidiu por uma tabela alternativa: ao invés de utilizar os valores de 1965, agora disponíveis, ele utilizou um paradigma anterior, que coincide com a primeira edição do SdA. As razões eu escrevo abaixo.
  • Hostetter, creio eu, nunca teve a intenção de que o seu resumo se tornasse um paradigma a ser utilizado. Portanto, ele apenas fez um agregado de tabelas pós-1965, com informações que Fauskanger não tinha quando escreveu o seu Curso.

Quanto ao raciocínio de Renk? Ele provavelmente é fundado em dois fatores:

  1. No Louvor de Cormallen, os soldados falam a palavra laituvalmet, que manteve-se dessa forma nas duas edições do SdA. Na Primeira Edição, os soldados dirigiam-se a si próprios, incluindo todos os soldados entre aqueles que longamente louvarão os dois Hobbits. Na Segunda Edição eles se dirigem aos Hobbits, dizendo que “longamente louvaremos vocês dois”, excluindo Frodo e Sam do “nós”. Portanto o sentido é uma questão de interpretação.
  2. Na mais lembrada omentielmo/omentielvo, no ensaio de 1960 “Quendi and Eldar”, quando -lme ainda era uma forma inclusiva, Tolkien deixa explícito que a palavra omentië é utilizada para encontros entre dois grupos, enquanto yomenië é utilizado para encontros entre três ou mais grupos. Portanto, ao manter -lva como dual a frase ainda faz sentido, pois o grupo dos Hobbits e o grupo dos Elfos formam dois grupos; desta forma é possível utilizar a forma dual de “nós”.

Agora que expliquei sobre os paradigmas do neo-élfico, fica a questão: e Tolkien?

Através do artigo é possível ver, como diz Rausch, que Tolkien não criou a mudança no sentido das desinências do nada. A idéia do uso de me- como forma exclusiva e qe-, mais tarde *we- como formas inclusivas vêm das primeiras versões do Qenya, como as encontradas no Early Qenya Grammar.

Para os que se interessam pelo estudo, um ensaio comparativo cronológico assim nunca foi feito sobre o assunto. Para os que se interessam por compor, é mais um aviso de que o material mais antigo pode trazer informações interessantes sobre as idéias do Professor.

“Sistema Pronominal do Quenya” atualizado na Parma Tyelpelassiva

O estudioso alemão Thorsten Renk revisou seu artigo sobre o sistema pronominal do Quenya, que pode ser acessado clicando aqui, no site Parma Tyelpelassiva.

O artigo é excelente. Ele permite ao leitor uma visão cronológica dos sistemas pronominais elaborados no Early Quenya Grammar, no Parma Eldalamberon 17, e também no Vinyar Tengwar 49, analisando quais escolhas estilísticas de Tolkien mantiveram-se firmes e fortes ao longo da evolução externa do Quenya.

Não é meu desejo traduzir artigos do Thorsten, porque esta não é minha área, e também porque a Ardalambion Brasil já tem permissão para traduzí-los, tornando desnecessário o trabalho duplicado. Mas se eu tivesse de escolher um artigo para traduzir, seria esse.

As revisões do Thorsten vêm refletindo uma mudança no tom do seu site. Ele é escritor do famoso curso de Sindarin Pedin Edhellen (publicado aqui no Brasil pela Arte & Letra), e dos não-tão-famosos curso de Quenya Quetin i lambë eldaiva e o curso de Adûnaico Ni-bitha Adûnâyê, onde ele expõe as versões “normalizadas” dessas línguas, criadas especialmente para os compositores neo-élficos. Esses cursos estão disponíveis no site dele. Já os artigos dele visam a análise dos textos de Tolkien de forma cronológica, e sem sugestões de padronização. Isto não era assim há uns 2 anos atrás, quando os artigos dele eram quase apêndices ao curso, voltados apenas à composição neo-élfica.

Resumo do Curso de Quenya: Lição 19

Pronomes em expressões imperativas

Como é dito no curso, “[p]ronomes retos opcionais podem ser introduzidos para tornar claro se o falante quer que uma ou várias pessoas façam algo” (p. 326).

Os exemplos dados pelo curso seriam:

  • Héca! “suma!/parta!” > hecat!/hecal! “retira-te/retirem-se” (WJ:364)
  • A laita! “louve” > a laital! “louve!/louvai!”
  • Áva care “não faça [isto]!” (WJ:371) > áva carit (note que e > i!)

Também é possível indicar qual é o objeto direto ou indireto utilizando pronomes independentes. P.ex. a laita te “abençoai-os”.

É possível sufixar um pronome independente à partícula á. “Observe-os”, segundo Helge, poderia ser tanto á tire te! quanto áte tire! (p. 327)

Pronomes dativos seriam sufixos à partícula imperativa. Helge exemplifica com ámen linda! “cante para nós!” (p. 328)

O curso expande também para o caso de haver dois pronomes, como objetos diretos e indiretos. A ordem não importaria, diz Helge, mas eu pessoalmente preferiria que o objeto indireto fosse sufixado à partícula imperativa, enquanto o direto se mantivesse independente no fim da frase, como no exemplo ámin care ta! “faça-o por mim!” (p. 328)

Por fim, partículas imperativas negativas – como áva e ála – podem receber pronomes. Cf. VT43:22, onde há álamë tulya “não nos conduza” (i.e. “não nos deixeis [cair em tentação]). (p. 328)

Pronomes Enfáticos

Basicamente servem para dar ênfase ao pronome: inyë chama bem mais atenção do que ni.

Até que haja evidências do contrário, para descobrir qual a forma enfática de um pronome pessoal, apenas adicione o prefixo e- antes da forma longa das desinências que aparecem na tabela do Sistema Pronominal de 1968 – a única exceção sendo a primeira pessoa do singular:

  • Inyë “eu”
  • Etyë “tu” (familiar)
  • Elyë “tu” (formal)
  • Esë “ele/ela/isto”
  • Elvë/Elwë “nós” (inclusivo)

Para pronomes possessivos, é provável que o sistema seja adicionar a desinência -ya à forma dativa do pronome independente:

  • Ninya “meu”
  • Tyenya “teu” (familiar)
  • Lyenya “teu” (formal)
  • Senya “dele/dela/disto”
  • Venya/Wenya “nosso” (inclusivo)
  • Menya “nosso” (exclusivo; atestado em VT43:19)

É importante notar que esses pronomes são considerados adjetivos para propósitos de pluralização. VT43:19 dá o exemplo menyë rohtarnossas dívidas”, onde menya tem o pl. menyë. (Em uma nota não relacionada, Tolkien decidiu que essa expressão seria traduzida como úcaremmar.)

Palavras interrogativas

O curso coloca muito bem: “Muitas palavras portuguesas freqüentemente usadas em perguntas mostram um qu- inicial: ‘quem?’, ‘quê?’, ‘qual?’, ‘quando?’, etc. No élfico de Tolkien, um ma- inicial possui conotações similares […]”

Sabemos destas palavras:

  • Man “quem?” (Namárië, várias vezes atestado no Markirya…)
  • Mana “o que é?” (PM:395, 403)
  • *Manan “para quê?”
  • Manen “como?” (PM:395)
  • *Massë “onde?”
  • *Mallo “de onde?”
  • *Manna “para onde?”

Posposições

Palavras que podem aparecer apenas depois das palavras às quais elas se conectam. Sabemos que existem duas:

  • , atestada nas etimologias como o “atrás” de frases como “há muitos anos atrás“;
  • Pella “além”, atestada no Namárië.

Resumo do Curso de Quenya: Lição 18

Pronomes Independentes

No Quenya, os pronomes podem aparecer como palavras independentes, além das desinências já vistas. Uma lista completa das desinências e das suas respectivas formas independentes pode ser encontrada neste link.

É importante lembrar ao aluno que esses pronomes independentes podem receber desinências casuais. Por exemplo: ni “eu” + -n (dativo) = nin para mim.

Verbos Impessoais

É melhor citar completo do sumário do livro (p. 323):

Alguns verbos do quenya são impessoais, não exigindo sujeito, mas quando alguém é, no entanto, afetado pela ação verbal, esse alguém pode ser mencionado como uma forma dativa: ora nin = “[isto] impele para mim” = “sinto-me instigado [a fazer algo]”.

E a explicação (p. 314):

Sentir-se instigado a fazer algo não é um “ato” deliberado realizado por um sujeito; esse sentimento, ao invés disso, afeta a pessoa envolvida, e em quenya isso é indicado apropriadamente pelo caso dativo.

Caso não tenha ficado claro o suficiente, por favor deixem um comentário.

Verbos Radicais U

Temos certeza de que o particípio ativo (presente) é formado adicionando -la e alongando a vogal raiz, se isto for possível. Talvez o pretérito seja formado com -në.

Os vários usos de

Por enquanto usem “sim” (VT49:28) e “não” (VT42:33, VT49:15).

Estou tentando negociar com o Carl Hostetter a Tolkien Estate (o Hostetter e o Bill Welden já me deram a permissão da parte deles) se poderei obter permissão para uma tradução do artigo Negação em Quenya, publicado no jornal Vinyar Tengwar nº 42, pp. 32–4. Basicamente, o autor Helge Fauskanger pegou várias partes daquele artigo como informação para fazer esta parte da lição (inclusive a comparação A ná kalima lá B), então tendo uma visão mais completa do material será possível que vocês mesmos decidam o que usarão ou não.

A esta altura do curso, é importante já começar a ler o material lingüístico tolkieniano de forma crítica. Em 1959 (ou seja, pós-SdA), era “sim”. Só por volta de 1970 (aproximadamente 10 anos!) Tolkien se decidiu utilizar para “não”, apenas porque ele não gostava da similaridade do û das línguas élficas com o û das línguas européias (citando o grego e o nórdico como exemplos).

Agora deixem-me perguntar uma coisa meus amigos: Tolkien também teve a idéia de “limpar a ficha” da Galadriel, isentando-a de toda culpa e de participação na Fuga dos Noldor, inventando uma história sem pé nem cabeça de ela sair com Celeborn de Aman antes do Fatricídio (no Contos Inacabados). Isto foi por volta de 1970 também, mas ninguém considera essa idéia como canônica, apesar de ser a mais recente escrita por Tolkien. A pergunta é: por que “não” deveria ser canônico também, seguindo o mesmo raciocínio? Não seria “sim” o significado mais plausível, quando comparados os motivos para a atribuição desse significado à palavra em 1959?

Vocês saberão se eu puder traduzir o texto.

PE17: Bye bye sistema verbal e pronominal do Sindarin

Se teorias sobre as línguas élficas fossem homens, os coveiros estariam pedindo férias neste semestre. Mais um pedacinho de nosso conhecimento presumido acaba de morrer, principalmente no que diz respeito a pretéritos do Sindarin. A lista de verbos a seguir aparecem no Parma Eldalamberon 17 (PE17) e foi compilada por Thorsten Renk, com as referências de página (e o comentário sobre echant) por Helge Fauskanger:

  • sevin pret. aw (p. 173)
  • dewin pret. edíw (p. 151)
  • nor- pret. onur (p. 168)
  • echad- pret.alt. edagant (p. 42; é sugerido que echant é a forma em uso corrente)
  • carfa- pret. agarfant/agarfast (p. 126)

Aliás, como o Thorsten nota, antes disto tínhamos apenas quatro verbos no pretérito atestados no Sindarin (ao contrário do Noldorin, encontrado nas Etimologias): ónen “eu dei”, echant “fez”, teithant “escreveu” e agor “fez”, sendo que em XI:415 é dito que essas formas são “comuns” em verbos “fortes” ou “primários” do Sindarin.

Abaixo segue uma análise do Helge sobre essas formas e algumas outras. Traduzi o ing. augment para “afixo aumentativo”, porque esta foi a melhor definição que encontrei, mas só para ter certeza, ele se refere à vogal que é prefixada de forma semelhante ao tempo perfeito do Quenya (o que me parece ser o padrão descrito abaixo, para falar a verdade). Mas vamos à palavra dos especialistas:

Onur “correu” (* < onôr-) está de acordo com agor “fez” já conhecido de Quendi and Eldar (< akâr-). Sevin, pret. aw para ahawv mais antigo, reflete a raiz SAM “ter”. A idéia é que *asâm- primeiro torna-se regularmente ahauv (do qual o “ahawv” de Tolkien é simplesmente uma grafia alternativa), mas então ah- funde-se com a sílaba seguinte, -v é perdido seguindo -w, e nós ficamos com au, aw.

Edíw “falhou” deve ser um erro para *edhîw, compare adhag de dak- na p. 131. De outra maneira, esta é regularmente formada a partir de *edêw-.

Edagant como uma (aparentemente hipotética, não utilizada) alternativa a echant “criado, formado” contém #agant como um pretérito alternativo derivado da raiz KAT. Edagant representaria *et-akante anterior. Aqui nós temos a infixação nasal ao invés do alongamento da vogal-raiz (não **akât- > **agod). É interessante que o afixo aumentativo é ainda utilizado mesmo com a infixação nasal também aparecendo aqui.

Nós também podemos considerar as formas aval- e adhag/adhanc, citadas na p. 131 como os aparentes pretéritos de bal- e dak- (talvez significando “governar” e “matar (slay)”?) A primeira é anormal no fato que não mostra alongamento da vogal-raiz (baseado nos outros exemplos nós esperaríamos *avol de *abâl-). O mesmo vale para adhag ao invés de *adhog, mas adhanc é uma forma similar a #agant, tanto com o afixo aumentativo e a infixação nasal.

Agarfant como um pretérito de carfa- “falar” combina o afixo aumentativo com o sufixo -nt. Isto é surpreendente, pois o exemplo canônico teithant não possui o afixo. De acordo com o editor, agarfant foi modificado de carfant, uma forma que teria concordado com teithant. (Também compare covant ao invés de *agovant como o pretérito de covad- “coletar”, p. 16.) Seria *edeithant igualmente possível? E podemos similarmente escolher de forma mais ou menos livre entre *pent e *ebent para “falou”?

Agarfast “falou” como o pret. intransitivo de carfa- contém um sufixo nunca antes visto, embora lembre o -as conhecido de alguns verbos nas Etimologias. …

De acordo com PE17:126, Tolkien escreveu que o sufixo -nt é usado no caso de verbos transitivos, mas -ir no caso de intransitivos. Esta idéia aparentemente sobreviveu por uns dois segundos; então ele escreveu a forma do pretérito intransitivo agarfast com um sufixo totalmente diferente: Um pequeno lembrete de que nós estamos olhando para notas brutas e devemos considerar este material pelo que ele é. …

Gwaen “eu vou” (p. 148) é uma forma que parece estranha a primeira vista, mas é provavelmente regularmente derivada de *wa-in (a raiz WÂ é dada). O pretérito anwen *”eu fui” pode representar uma raiz que é tanto aumentada quanto infixada nasalmente (*a-n-we-n-), ou o A inicial vem de AWA como uma forma mais longa da raiz (também dada). Sem um sufixo pronominal nós temos anu, para o *anw mais velho.

Fonte: E:34350

Omentielva Tatya: Pronomes do Quenya, Khuzdul e Parma Eldalamberon 17

Helge Fauskanger voltou do Omentielva Tatya (quenya, Segundo Encontro) que ocorreu na Antuérpia, Bélgica, uma convenção sobre línguas tolkienianas. Ele fez o upload de dois ensaios escritos por B.J. Ward:

A surpresa do evento, ao que parece, foi o inesperado lançamento do Parma Eldalamberon 17, distribuído por Bill Welden durante o evento. Segundo Helge, há “200+ páginas de material pós-SdA” e que esta edição “traz os comentários de Tolkien sobre os vários exemplos de línguas ‘exóticas’ no SdA, e há novas informações sobre o Khuzdul também. A palavra baruk “machados”, é dito ser a forma plural de bark “machado” (p. 85)…”

Em luz desta nova publicação, o artigo sobre derivações em Khuzdul está defasado. Contudo, é uma das raras oportunidades que o leitor atual tem de comparar como, em um único dia, nosso conhecimento muda de maneira radical.

Fonte: E:34301

Notícias do dia 7/8/2007

Notícias sobre as línguas élficas ou assuntos relacionados no dia 7/8/2007:

  • O blog do estudioso tolkieniano Michael Martinez (Tolkien Studies) foi atualizado falando sobre a MERPCon III, evento patrocinado pela MERP.com tratando sobre o RPG tolkieniano. Você pode ouvir o Martinez falando durante o evento neste arquivo de audio.
  • A maior parte do post do Martinez foi sobre o lançamento de uma publicação voltada a esse assunto: Other Minds. Segundo os editores, a intenção não é rivalizar com o fanzine Halls of Fire, mas sim abranger áreas que o este não cobre: épocas que não a da Guerra do Anel, sistemas que não seja o CODA. A primeira edição traz um espetacular set de mapas para uso em campanhas, feito por um grupo de cartógrafos liderados por Thomas Morwinsky.
  • O clima ficou tenso desde que o norueguês Helge Fauskanger lançou (na E:34259) a revisão preliminar das listas de palavras em Quenya na Ardalambion. O alemão Thorsten Renk (Parma Tyelpelassiva, Curso de Sindarin) discordou de uma forma um tanto ríspida em E:34264 da posição do Helge relativo à confiabilidade que a nova tabela de pronomes pode trazer para o cenário do neo-élfico. Houve mais um par de mensagens, E:34281 e E:34283. Segundo Thorsten, não há um problema de falta de informação sobre os pronomes do Quenya, mas sim uma sobrecarga de informação conflitante. Ele menciona a desinência -t, que reconhecíamos como a versão curta da 3ª pessoa do plural — agora sabemos que Tolkien imaginou nessa tabela que -t é o dual da 3ªp.pl. (ver tabela de 1968), e isso conflita com a tradução do Pai Nosso em VT43. Diz Thorsten: “Siv’ emme apsenet agora significaria ‘como nós dois (exclusivo) perdoaríamos eles dois’ – então pecados e pecadores vêm em pares.”
  • Neste meio tempo, Thorsten atualizou alguns artigos no Parma Tyelpelassiva: O Sistema Pronominal do Quenya, contendo informções cronológicas sobre o desenvolvimento externo, desde o Qenya de 1917; O Pretérito do Quenya, igualmente cronológico e contendo informações novas do VT49; e um artigo original sobre o Modo Sindarin com tehtar das tengwar, seguindo o mesmo estilo dos artigos sobre línguas. Ele promete lançar em breve artigos sobre o verbo ser/estar e numerais em Quenya.
  • The J.R.R. Tolkien Companion and Guide (de Wayne Hammond e Christina Scull) ganhou o Mythopoeic Awards na categoria “Mythopoeic Scolarship Award in Inklings Studies”. Se eu fosse obrigado a fazer uma aposta quando noticiei a lista de indicados há dois meses atrás, seria essa. Venho lendo os livros deles nesse último mês e posso dizer que o nível de detalhismo deles é espetacular. No Chronology eles encontraram até as datas onde Tolkien jogou rugby pela escola.

Resumo do Curso de Quenya: Lição 15

Primeiramente, parabéns! Passando desta lição você terá chegado mais longe do que eu jamais cheguei no Curso de Quenya. Parei de estudar de forma linear na lição 14, pois na época eu traduzia bastante e já havia aprendido alguns conceitos mais avançados.

Mesmo assim, eu precisei voltar a ler o curso eventualmente, para completar meu conhecimento. Digamos que eu “tranquei minha matrícula”. Considere tudo que você aprendeu até agora o “básico” do Quenya. Esta lição inicia a fase intermediária do seu aprendizado.

Mais Sobre Desinências Pronominais Possessivas

  • -rya significa “seu, sua”, ou seja, aplica-se aos dois gêneros;
  • -ryat é o plural dual e, possivelmente -u- é a vogal de ligação a ser utilizada entre o subst. e o pronome no dual;
  • os encontros -ny, -ly, -ry e -ty funcionam como duas consoantes separadas para definir a tonicidade (exemplo: hildinyar é paroxítona por conta disso), mas permitem que vogais longas as precedam (ex: “mão” ? máryat “par de mãos”, mas malvar “nossas mãos”);
  • verbos no infinitivo com a forma estendida em -ta (ver lição 10, p. 172-4) permitem desinências pronominais possessivas (ver p. 260). Gerúndios parecem permití-las também.

O Caso Locativo

Possui a forma singular -ssë, pl. -ssen, dual -tsë. Após n e l, a desinência aparece como -dë, devido à evolução fonética do Quenya, e talvez como -së após s ou t.

O sentido da desinência, como o nome diz, é especificar o local de uma ação, equivalente ao português “em, sobre, em cima”.

Frases Relativas

Praticamente tudo que está escrito entre as p. 264-69 está ultrapassado, por conta da publicação do VT47, em fevereiro de 2005. Por isso, vou tentar explicar rapidamente os pronomes relativos, e como eles passarão a ser utilizados na nova edição do Curso de Quenya (assim que ela sair). Na p. 264 temos:

[O pronome relativo] pode ser usado para construir frases relativas, isto é, frases encaixadas em outras frases como um tipo de expressões descritivas. Duas frases como “o tesouro é grande” e “você encontrou-o” podem ser combinadas como “o tesouro que você encontrou é grande”.

Entendido isso, é necessário saber que o Quenya tem dois pronomes relativos, enquanto o português tem um, “que”. Isso é porque o Quenya segue o modelo do inglês, que tem dois pronomes desse tipo: who e which. A diferença sendo que who é utilizado quando nos referimos a uma pessoa (ou seja, “pessoal”), enquanto which é utilizado ao se referir a coisas ou situações (ou seja, “impessoal”). Exemplo:

  • A pessoa que falou com você era grande. ? The person who spoke with you was big.
  • O tesouro que você achou era grande. ? The treasure which you have found was big.

No Quenya, temos os seguintes pronomes relativos:

  • Pessoais: sing. ye, pl. i
  • Impessoal: sing. e pl. ya

Ao contrário do que é dito no Curso de Quenya, todos os pronomes relativos (inclusive i) podem receber desinências casuais.

Outra função importante dos pronomes relativos é que, quando utilizados sem um substantivo e à frente de um verbo, podem significar:

  • ye “aquele que” ? ye carë quettar “aquele que forma palavras”
  • i “aqueles que” ? i carir quettar “aqueles que formam palavras”
  • ya “aquilo que” ? ya carë quettar “aquilo que forma palavras”

Obscuridades da Terceira Pessoa

Na época em que o autor escreveu o Curso, não havia disponível uma tabela canônica de pronomes do Quenya pós-Senhor dos Anéis, então ele estrapolou que -ryë seria a forma longa da terceira pessoa do singular, ou seja, “ele/ela/isto”. Para você completar os exercícios, precisa saber disso.

Contudo, nós sabemos hoje que em 1968/9, a forma longa da 3ª pessoa do singular era -së, e ela era raramente utilizada.

Tabela de pronomes do Quenya revisada

Há algum tempo atrás, eu postei informações sobre a tabela de pronomes do Quenya feita por Tolkien em 1968-9. Desde lá, essa tabela foi publicada na Wikipédia inglesa, na entrada sobre Quenya.

Como a Wikipédia está sob a GNU Free Documentation License, resolvi utilizar a mesma tabela (embora traduzida) no meu artigo original, que vocês podem ler neste link. Espero que seja útil para todos os compositores.

Resumo do Curso de Quenya: Lição 13

O Caso Dativo

Indica o objeto indireto de uma frase. O objeto indireto é um “objeto indiretamente afetado pela ação verbal da frase” (p. 215). No português as seguintes preposições são utilizadas para simular a função do dativo:

  • para o / para a;
  • ao / à.

Em “o homem deu ao menino o livro” e “o homem deu o livro ao menino”, o objeto indireto fica claro como sendo o menino (o “ao” precedendo a palavra “menino” é um bom indicativo).

O dativo no Quenya é formado a partir das seguintes desinências:

  • -n no singular (Elda » Eldan)
  • -in no plural (Eldar » Eldain)
  • -nt no dual (Eldat » Eldant)

Como no possessivo-adjetivo, quando a desinência plural alongar a vogal final e houver uma vogal longa a prescedendo (ex: tári), não alonga-se o -i- (ex.: tarin).

Nos exercícios do curso, o plural dual não é abordado, portanto vou dar minha opinião: o que Tolkien escreve tem precedência sobre outras teorias, portanto o plural dual em -u também deve ter o dativo dual em -nt: Aldu » Aldunt.

Na p. 218 o uso do dativo é explicado em posições não tão óbvias: em frases sem um objeto direto, em frases com sujeito oculto ou expressões que não têm verbo. É muito importante para a compreensão desse caso.

Para unir um dativo a um substantivo que termine em consoante, utiliza-se -e-: atar » ataren.

O Gerúndio

Antes de tudo, entenda bem a função do gerúndio no Quenya! E o que isso significa? Que até onde sabemos, ele emula o gerúndio do inglês completamente. É importante ler toda essa parte da lição para realmente compreender todas as funções, mas em miúdos, o gerúndio pode assumir duas funções:

  1. infinitivo;
  2. substantivo.

Infinitivo: O Quenya possui um infinitivo, mas no inglês o gerúndio também pode assumir essa função quando a ação do verbo é mais “próativa”. Ex.: “eu adoro observar os pássaros” pode ser em inglês tanto “I love to observe the birds” (no inf.) quanto “I love observing the birds” (no ger.). No Quenya, a frase pode ser melin tirë i aiwi, mas também pode ser melin tirië i aiwi.

Substantivo: O gerúndio também pode ser utilizado como um substantivo verbal, sobre os quais falamos na última lição. No Juramento de Cirion, Tolkien deixa explícito que a palavra enyalië é o gerúndio do verbo enyal- “lembrar (ing. “recall”)”, mas possui sentido de substantivo, “lembrança”. De fato, essa palavra recebe uma desinência casual dativa, que nenhum verbo pode receber, exceto o gerúndio utilizado nesta função.

Quanto à formação do gerúndio, os verbos são conjugados da seguinte forma:

  • Verbos Primários adicionam a desinência -ië: hir- » hirië
  • Radicais A suplantam o -a final com -ië: naina- » nainië
  • Radicais A em -ya substituem o mesmo por inteiro: harya- » harië

O Pronome “Nós”

No Quenya, existem três desinências pronominais distintas para o que no português é expressado pela palavra “nós”:

  • -lvë: Quando o “nós” inclui o(s) indivíduo(s) ao(s) qual(is) se dirige(m) o(s) autor(es) da frase. Ex: Frodo diz a Sam e Pippin “Nós (todos) escapamos dos Cavaleiros Negros.” Nota: O Vinyar Tengwar 49 lista -lwë como uma variante válida.
  • -lmë: Quando o “nós” exclui o(s) indivíduo(s) ao(s) qual(is) se dirige(m) os autores da frase. Ex.: Os soldados de Gondor falam a Frodo e Sam “Nós (os soldados) louvaremos vocês (os objetos da frase).”
  • -mmë: Enquanto as desinências acima requerem no mínimo três indivíduos (dois de um lado e um do outro em -lvë, dois de um lado e um excluído em -lmë), esta desinência requer apenas duas, ou seja, é a desinência dual. Contudo, por não se saber se é dual inclusiva, exclusiva ou ambas, o Helge não a utiliza nos exercícios. Nota: O VT49 não lista essa desinência.

Um Pronome Indefinido

A palavra quen significa “alguém” e pode receber desinências casuais. O Vinyar Tengwar 49 traz nas páginas 19, 20 e 26 a palavra mo para “alguém”.