Falece E. Gary Gygax

Aos 69 morre E. Gary Gygax, que com Dave Arneson criou o RPG Dungeons & Dragons, em 1977 (mesmo ano do lançamento d’O Silmarillion).

Sendo eu mesmo um jogador de D&D, embora ruim, devo muito a ele. Foi jogando AD&D que comecei no RPG, e a maior parte dos meus jogos aconteceram no D&D 3.0. Quase todas as minhas amizades em Porto Alegre, hoje, obtive por causa do RPG.

Muito obrigado por tudo. E citando o Fabiano Neme, tomara que ele tenha sucesso na próxima rolagem de atributos.

E só para constar, o Wil Wheaton (Wesley Crusher do Jornada: Nova Geração) postou em homenagem a Gygax em seu blog a sua primeira experiência com RPG em seu blog. O post tem o título de “across the sea, a pale moon rises“, verso de Into the West, tema do filme O Retorno do Rei.

Lorem ipsum élfico

Quando eu compro uma nova carga para minha caneta tinteira, noto que sempre acabo testando utilizando o poema Namárië. Isto me lembra muito do uso do Lorem Ipsum:

Em design gráfico e editoração, Lorem ipsum é um texto utilizado para se preencher o espaço de texto em publicações (jornais, revistas, e websites), com a finalidade de verificar o lay-out, tipografia e formatação antes de utilizar conteúdo real. Muitas vezes este texto também é utilizado em catálogos de tipografia para demonstrar textos e títulos escritos com as fontes. (Wikipédia: Lorem Ipsum)

Eu pensei então “poxa, seria legal se eu colocar uma transcrição do Namárië para que as pessoas que instalaram o Compêndio de Fontes Élficas possam testá-las imediatamente!” E foi isso que eu fiz, como vocês podem verificar na página do compêndio. Contudo, para os curiosos, ela está aqui embaixo também:

lEÁ j.E7T`V jE4#6 jE,T 8~M7T5$5=
hÍ~V5% ~M5~N1Tt$ yR 7~Ct#6 `CmE7Y5Á
hÍ~V5% yR jT4$ hÍUmE6 `Cy~C5%`V6
t% `N7Yt#uT jT,Rt%7Uy~N7RyE
`C2~M5$ qRj¸E= yEuY 1Rj¸Ut#6
5& jlU5% hÍE,R5 1T4%jE6 `B `VjR5%
~Nt#7ÍY lE7R1~C7Tj~B7T5$5-

8~B t#5 `B hÍUjt# 5%5 `Vv#4&yEÀ

`C5 8~B 1T4#j¸R yEuE lY`NjY,R`N
yR eE5Ì#6 t~C7ÍE1 `VjR4~C7T `N61E5$
`C6 `Bj´R 1T`V6 `M2&j~CyR jUw&jR
`C6 iT2#5~N7T`Vj¸Y alE1E t^65%`V
`B eEjt#jT5"#6 `Bw$ t$1=
`C6 9~BiT`V `M4~MqE aEjEaT7ÍY t~B7T lY`CjR-
8~B yE5nE 5~C= 7~Nt$j¸Y yE5nE= yEjTt#6Á

5#t~C7T`VÁ 5lE 9G7UyEj´R yEjTt#6Á
5lE `Vj´R 9G7UyEÁ 5#t~C7T`VÁ

Viu um monte de caracteres aleatórios? Então baixe o Compêndio de Fontes Élficas você também!

American Gods, de Neil Gaiman, disponível grátis para leitura

Eu gosto muito do trabalho do Neil Gaiman, mas além de Sandman e vários contos, não li muita coisa dele. Se você está na mesma situação que eu, e sabe ler inglês, pode começar com o American Gods, que está disponível gratuitamente para leitura no site da HarperCollins (a mesma editora na Inglaterra dos livros de Tolkien). Você acessar o livro a partir do widget abaixo:

Um dos grandes erros que eu cometi, e que pretendo não continuar cometendo, é que por cinco anos eu passei lendo só Tolkien, estudando só Tolkien, e no fim das contas o meu conhecimento sobre literatura em geral é muito pequeno. E isto é um problema sério, pois você não pode ficar preso apenas a um ponto de vista. Então, de vez em quando, eu vou dar uma dica aqui e alí sobre algum livro interessante que vocês podem obter, ou comprando ou de graça na internet.

Capa do Curso de Sindarin

Edição: Veja o comentário do Gabriel logo abaixo do post para mais informações do andamento da tradução. O livro deve sair em março!

A Valinor publicou ontem uma das opções de capa do Curso de Sindarin, que será lançado ainda este ano pela Editora Arte & Letra. A imagem está abaixo.

Curso de Sindarin

Falando nisto, a tradução está quase acabada, faltando apenas as escritas Tengwar. Quando conversei com o Gabriel Brum (tradutor do Curso, nick “Reinhard” na Valinor) quinta-feira passada, ele me disse que estava aguardando que o Johan Winge (inventor das letras Tengwar Annatar e Tengwar Telcontar) enviasse as inscrições, mas não foi possível mais esperar. No fim das contas acabou sendo uma coisa boa, pois o Thorsten Renk esqueceu de atualizar algumas das inscrições em Tengwar para que ficassem de acordo com os novos textos do Curso de Sindarin 3.0 (a versão em língua inglesa, lançada há um tempo atrás).

Resumo do Curso de Quenya: Lição 20

O verbo “ser”

O verbo “ser/estar” (to be em inglês) no Quenya é na-. Ele é conjugado da seguinte forma:

  • Presente e imperativo: na “é/está”, pl. nar “são/estão”, dual nat;
  • Pretérito: “foi/esteve”; com desinências pronominais fica ane-: anen “eu fui/estive”, anel “tu foste/estiveste”, etc. Plural nér, dual nét.
  • Futuro: nauva “será/estará”;
  • Aoristo: nae (nai-) “é/está”;
  • Perfeito: anaië “tem sido/tem estado” (ing. has been).

No curso há muita especulação sobre o verbo ea-. Ele é, na verdade, o verbo “existir”. Sabemos que é tanto a forma do presente quanto do aoristo; que o pretérito é engë; que o perfeito seria éyë numa forma arcaica, mas engië pode ser utilizado. O futuro é euva.

Ma: uma partícula interrogativa?

Sendo objetivo: esta seção é uma teoria de que a partícula interrogativa ma- pode ser utilizada na sua forma raiz (ou seja, ma) para distinguir um questionamento de uma afirmação. Isto ocorre no polonês (Czy … ?), no esperanto (Chu … ?) e até certo ponto no inglês (Did he… ? Can he… ?).

O exemplo faz a compreensão simples:

Tences i parma “Ele(a) escreveu o livro” > Ma tences i parma? “Ele(a) escreveu o livro?”

Eu, particularmente, não creio nessa teoria.

Sa introduzindo cláusulas nominais

O que são cláusulas nominais: uma frase inteira que equivale a um substantivo. O indicador de onde começa uma cláusula nominal no Quenya é a palavra sa.

A frase analisada:

Merin sa haryalyë alassë “Desejo que você tenha felicidade”

  • Merin: “Eu desejo”, o sujeito e o verbo da frase.
  • sa: a partícula que indica que “tudo após esta palavra é uma cláusula nominal”
  • haryalyë alassë: “tenha felicidade”, a cláusula nominal em si; esse pronome, verbo e substantivo são todos um único objeto direto do verbo “desejo”.

Resumo do Curso de Quenya: Lição 19

Pronomes em expressões imperativas

Como é dito no curso, “[p]ronomes retos opcionais podem ser introduzidos para tornar claro se o falante quer que uma ou várias pessoas façam algo” (p. 326).

Os exemplos dados pelo curso seriam:

  • Héca! “suma!/parta!” > hecat!/hecal! “retira-te/retirem-se” (WJ:364)
  • A laita! “louve” > a laital! “louve!/louvai!”
  • Áva care “não faça [isto]!” (WJ:371) > áva carit (note que e > i!)

Também é possível indicar qual é o objeto direto ou indireto utilizando pronomes independentes. P.ex. a laita te “abençoai-os”.

É possível sufixar um pronome independente à partícula á. “Observe-os”, segundo Helge, poderia ser tanto á tire te! quanto áte tire! (p. 327)

Pronomes dativos seriam sufixos à partícula imperativa. Helge exemplifica com ámen linda! “cante para nós!” (p. 328)

O curso expande também para o caso de haver dois pronomes, como objetos diretos e indiretos. A ordem não importaria, diz Helge, mas eu pessoalmente preferiria que o objeto indireto fosse sufixado à partícula imperativa, enquanto o direto se mantivesse independente no fim da frase, como no exemplo ámin care ta! “faça-o por mim!” (p. 328)

Por fim, partículas imperativas negativas – como áva e ála – podem receber pronomes. Cf. VT43:22, onde há álamë tulya “não nos conduza” (i.e. “não nos deixeis [cair em tentação]). (p. 328)

Pronomes Enfáticos

Basicamente servem para dar ênfase ao pronome: inyë chama bem mais atenção do que ni.

Até que haja evidências do contrário, para descobrir qual a forma enfática de um pronome pessoal, apenas adicione o prefixo e- antes da forma longa das desinências que aparecem na tabela do Sistema Pronominal de 1968 – a única exceção sendo a primeira pessoa do singular:

  • Inyë “eu”
  • Etyë “tu” (familiar)
  • Elyë “tu” (formal)
  • Esë “ele/ela/isto”
  • Elvë/Elwë “nós” (inclusivo)

Para pronomes possessivos, é provável que o sistema seja adicionar a desinência -ya à forma dativa do pronome independente:

  • Ninya “meu”
  • Tyenya “teu” (familiar)
  • Lyenya “teu” (formal)
  • Senya “dele/dela/disto”
  • Venya/Wenya “nosso” (inclusivo)
  • Menya “nosso” (exclusivo; atestado em VT43:19)

É importante notar que esses pronomes são considerados adjetivos para propósitos de pluralização. VT43:19 dá o exemplo menyë rohtarnossas dívidas”, onde menya tem o pl. menyë. (Em uma nota não relacionada, Tolkien decidiu que essa expressão seria traduzida como úcaremmar.)

Palavras interrogativas

O curso coloca muito bem: “Muitas palavras portuguesas freqüentemente usadas em perguntas mostram um qu- inicial: ‘quem?’, ‘quê?’, ‘qual?’, ‘quando?’, etc. No élfico de Tolkien, um ma- inicial possui conotações similares […]”

Sabemos destas palavras:

  • Man “quem?” (Namárië, várias vezes atestado no Markirya…)
  • Mana “o que é?” (PM:395, 403)
  • *Manan “para quê?”
  • Manen “como?” (PM:395)
  • *Massë “onde?”
  • *Mallo “de onde?”
  • *Manna “para onde?”

Posposições

Palavras que podem aparecer apenas depois das palavras às quais elas se conectam. Sabemos que existem duas:

  • , atestada nas etimologias como o “atrás” de frases como “há muitos anos atrás“;
  • Pella “além”, atestada no Namárië.

Exposição de pinturas tolkienianas no Rio de Janeiro

Do site da Toca SP (ênfases minhas):

O artista tolkieniano Douglas Costa terá seus trabalhos expostos no Forte de Copacabana, Rio de Janeiro, na exposição nomeada “Heranças da Terra Média”. A exposição, aberta ao público de 8 e 23 de março de 2008, será promovida pelo Conselho Branco, através da Toca RJ.

Será a primeira exposição do artista Douglas Costa no Rio de Janeiro, após uma longa espera cheia de expectativas pelo público de obras de fantasia, desde 2005, quando Douglas se tornou famoso por ter sido o único artista brasileiro a participar da mostra de artes da maior convenção de especialistas na obra de Tolkien, a Tolkien 2005, realizada da Inglaterra. Nesta ocasião, seus quadros estiveram ao lado de obras dos principais ilustradores dos livros. Desde então, Douglas é presença certa nas convenções anuais da Federação Tolkiendili Brasileira, expondo nas edições da HobbitCon 2005 em Santo André (SP), 2006 em Vitória (ES) e 2007 em São Paulo (SP).

Na exposição intitulada “Heranças da Terra Média”, Douglas nos traz um fabuloso passeio por cenários históricos e literários, do cotidiano ao fantástico; mescla em suas pinturas a linguagem clássica e moderna tornando suas obras um convite aos olhos e à imaginação de seus espectadores.

Modo Sarati Português

O Angúriel e a Gwen do site Tolkienianos lançaram há mais ou menos uma semana o Modo Sarati Português, uma nova maneira de escrever em português com um alfabeto não muito conhecido (mas extremamente interessante) criado por Tolkien.

As Sarati foram criadas durante a Era das Árvores, em Aman (continente onde fica Valinor) pelo escriba Rúmil, dos Noldor. Uma das coisas mais interessantes do Sarati é que ele pode ser escrito da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, e de cima para baixo! Este alfabeto foi finalmente suplantado pelas Tengwar, mas apenas entre os Noldor: os Vanyar continuaram utilizando o Sarati pelo resto das Eras, até onde sabemos.

PARA FAZER O DOWNLOAD DO MODO SARATI PORTUGUÊS, CLIQUE AQUI!

Fico grato à Gwen por ter permitido que eu hospedasse o arquivo. E ao Angúriel por todo o esforço que colocou na criação do modo!

Abaixo eu deixo um pedaço de texto escrito com o novo Modo Tengwar Sarati Português:
Túrin em MSP

Mas, quando se endireitou, sentido-se liberto e pronto a vender cara a vida contra inimigos imaginários, brilhou sobe eles um grande relâmpago, e à luz viu a cara de Beleg. Então, Túrin ficou como que transformado em pedra e silencioso, de olhos fixos naquela morte horrível e consciente do que fizera, e tão terrivel era a sua cara,iluminada pelos relâmpagos que brilhavam à volta deles, que Gwindor se encolheu no chão e não ousou erguer os olhos.

De Túrin Turambar, O Silmarillion

“Os Anais de Aman” disponível na Valinor

A Valinor começou a publicar a tradução dos “Anais de Aman”, texto que integra o Vol. X da série History of Middle-earth (HoMe), Morgoth’s Ring.

A segunda parte pode ser lida aqui.

A terceira parte pode ser lida aqui.

Os Anais são uma cronologia detalhada dos acontecimentos do mundo de Tolkien, separados por ano. Lá é possível aprender quando os elfos despertaram, quando Fëanor nasceu, quando os Nandor deixaram a Grande Jornada e outros eventos relacionados até a Fuga dos Noldor de Aman. Sendo um documento tão importante para os estudantes de Tolkien e de seu legendarium, tenho de dizer que estou muito feliz e agradecido ao Deriel por ter feito esse esforço.

Mais sobre o plural em ações físicas élficas

Em 17 de janeiro foi enviada por Ugo Truffelli uma mensagem refutando a teoria de Fredrik Ström (publicada aqui na Tolkien e o Élfico), que havia argumentado sobre a frase i karir quettar ómainen “aqueles que formam palavras com vozes”, dizendo que assim como o plural normal não era utilizado para as mãos, talvez não necessitasse ser utilizado para as vozes, pois os elfos têm só uma voz cada.

Truffelli cita a passagem em PE17:161:

A expressão idiomática do Quenya para descrever as partes do corpo de várias pessoas é utilizar o número próprio a cada indivíduo, o plural das partes existindo em pares (como mãos, olhos, orelhas, pés) é raramente requerido.

E explica:

Bem, tendo em vista estas palavras, eu acho difícil ver ómainen como uma utilização desta expressão idiomática, pois óma não é uma parte do corpo que existe mais do que uma vez em uma pessoa, nem cai na categoria de “partes existindo em pares”. E se o uso idiomático necessita o singular ou dual para suplantar o plural normal — de forma a especificar o “número próprio a cada indivíduo” — nós podemos facilmente supor que o uso não-idiomático deve requerer um plural. E de fato nós encontramos ómainen.

Utilizando também como exemplo a tradução das frases “todos os estudantes ergueram suas mãos” e “aqueles que formam palavras com vozes, Truffelli demonstra como estas frases ficariam em italiano, uma língua que Tolkien adorava (ele adorava italianos e a sua língua):

O italiano, embora concorde com o Quenya sobre partes do corpo como “mãos” (então o seu exemplo seria escrito como “tutti gli studenti alzarono la loro mano”, enquanto “le loro mani” significaria “ambas as mãos cada um”), permite ambos voce “voz” e voci “vozes” (“coloro Che formano parole con la voce/le voci”).