Parma Eldalamberon 19

Christopher Gilson anunciou ontem à noite o Parma Eldalamberon 19, uma edição dedicada à fonologia do Quenya.

O PE trará tabelas comparativas da fonologia das línguas como estavam nos anos 1930, como Valarin, Quenya, Lindarin, Telerin, Noldorin,
Ilkorin, Daniano, Lemberin e Taliskano. O artigo de tabelas comparativas trará anotações de Tolkien referentes ao desenvolvimento fonológico dessas línguas.

O segundo artigo, “Outline of Phonetical Development” trará um histórico do desenvolvimento do Quenya a partir do Eldarin primitivo, provavelmente parecido com o que o Helge Fauskanger fez, e no qual eu baseei uma palestra em 2004, exceto que o texto de Tolkien se baseia no paradigma linguístico de 1940 e introduz informações sobre os diferentes dialetos da língua.

Por fim, o “Outline of Phonology” traz uma atualização ao “Outline of Phonetical Development” para o paradigma da década de 1950.

Mais informações sobre os textos e como adquirir um exemplar em: http://www.eldalamberon.com/parma19.html

Como as fontes élficas funcionam

Aqui segue uma pequena descrição de como as fontes Tengwar funcionam. Caso fique alguma dúvida neste post, por favor envie um comentário.

Nota importante: Você precisa de, ao menos, Internet Explorer 8, Mozilla Firefox 3.6+ ou Google Chrome 6+ para visualizar as fontes Tengwar neste artigo.

Entendendo um pouco de Tengwar

Um tratamento mais profundo do Tengwar é feito pelo excelente site Amanye Tenceli, criado por Måns Björkman e traduzido pelo Luciano Magalhães. Aqui eu serei breve e, espero, vocês vão compreender um pouco mais sobre o assunto:

  1. O Tengwar é um alfabeto, não uma língua: de fato, o Tengwar pode ser usado para escrever em várias línguas. Tolkien utilizou em O Senhor dos Anéis esse alfabeto para escrever em inglês, fala negra de Mordor e Sindarin. Em outros locais ele utiliza o Tengwar para escrever em Quenya e anglo-saxão. O que nos leva ao segundo ponto.
  2. O Tengwar segue uma lógica de linguista: Tolkien era um linguista por profissão, e o Tengwar segue uma lógica de linguista. Enquanto a letra 1 representa um “T”, a letra 2 representa um “D”. Para um linguista essa progressão é lógica, pois um “D” nada mais é que um “T” pronunciado com o uso das cordas vocais: ambos os sons são “oclusivas dentais”, mas o “T” é surdo (não usa as cordas vocais) e o “D” é sonoro (usa as cordas vocais). Em Tengwar, fonemas surdos usam apenas uma curva (lúva) enquanto fonemas sonoros usam duas curvas (lúvar).
  3. O Tengwar é adaptável: Sendo criado por um linguista, o Tengwar é adaptável a qualquer língua, inclusive o português. Por exemplo, quando escrevemos em inglês ou Sindarin, o fonema que o tengwa 3 representa é o do som de “TH” na palavra thing; contudo, quando escrevemos em Quenya, o mesmo tengwa indica “NT”, que é um encontro consonantal comum naquela língua, pois o “TH” não existe em Quenya. Já em português, esse mesmo símbolo foi adaptado pelos criadores do Modo Tengwar Português para indicar o fonema do “T” da palavra “tia”, ou o “TCH” da palavra “tchê”.

Entendendo as fontes Tengwar

Por causa do terceiro item acima, é impossível para um tipógrafo adivinhar como cada um dos diversos modos de escrita para Tengwar utilizam os caracteres. Além disso, tendo em vista que as tengwar possuem largura variável, é impossível alinhar as vogais automaticamente — as vogais são escritas como se fossem “acentos” — com a tecnologia que nós temos hoje.

Foi então que o tipógrafo Dan Smith criou um método universal de inserção de caracteres Tengwar. Ele tirou sua inspiração do próprio Tolkien e da sua tabela de Tengwar nos apêndices d’O Senhor dos Anéis:

Tabela de Tengwar

Se nós virarmos essa tabela com o topo para a esquerda e então girarmos o que está embaixo para cima, ficaremos com o seguinte layout no nosso teclado:

Tabela 1: Consoantes do Tengwar
1 2 3 4 5 6 7 8 9
1 2 3 4 5 6 7 8 9
q w e r t y u i o
q w e r t y u i o
a s d f g h j k l
a s d f g h j k l
z x c v b n m , .
z x c v b n m , .

Essas são as consoantes. E as vogais? As vogais são um caso diferente. Via de regra, quanto mais para baixo no teclado, mais para a direita ela se alinha, e você deve utilizar uma das quatro versões para alinhar melhor ao tengwa que você está usando. Segue aqui a lista dos que são usados em português usando o tengwa Númen como base. Veja como só a primeira série se alinha corretamente:

Tabela 2: Vogais do Tengwar
# $ % ^ & Ô Ø
5# 5$ 5% 5^ 5&
E R T Y U Õ Ù
5E 5R 5T 5Y 5U
D F G H J Ö Ú
5D 5F 5G 5H 5J
C V B N M × Û
5C 5V 5B 5N 5M

Material de Referência

Cada uma das fontes vem com material de referência, mas talvez o mais simples de imprimir e utilizar seja o da fonte Tengwar Annatar. Se você baixou meu compêndio de fontes, deve estar em C:Arquivos de ProgramasFontes ElficasTengwar Annatartangandoc.pdf. Vamos dar uma olhada:

Tinco

A informação aqui apresentada da esquerda para a direita é a seguinte:

  1. O caractere alfanumérico correspondente ao caractere Tengwar. Neste caso, o numeral 1 é equivalente ao tengwa 1 (tinco).
  2. O número 49 indica o “código Alt” a ser digitado: se você usar a combinação do teclado Alt+0049 (segure a tecla Alt e digite 0049 no teclado numérico, aquele que só funciona com NumLock ligado), você conseguirá o caractere “1”.
  3. O tengwa que estamos tentando escrever em estilo “livresco”.
  4. O mesmo tengwa em estilo itálico, como no Um Anel.

… no qual o autor reaprende a escrever

Algumas novidades estruturais no blog.

A primeira é que devido à larga adoção do padrão @font-face entre os navegadores de internet modernos, eu estou mudando globalmente a fonte do blog para a Gentium Basic, e você poderá ver essa fonte mesmo que não a tenha instalada no seu computador. Você também deve poder ler 1RjaH como o Quenya telco escrito em Tengwar sem ter as fontes élficas instaladas.

Se você estiver utilizando o Mozilla Firefox como a maioria dos meus visitantes, ou o Google Chrome como 14% deles, você não notará diferença no layout do site. Contudo, se você estiver utilizando o Internet Explorer, notará que não há mais borda separando o fundo da área de conteúdo, e por isso me desculpo. O padrão de Cascading Style Sheet 3 me permite utilizar o estilo box-shadow, e isso me economiza muito tempo de Photoshop e o trabalho de encaixar as imagens no lugar. Neste momento eu não tenho como investir tanto tempo no design do blog. Mas não se preocupem! O Internet Explorer 9 terá suporte para essa função do CSS3 e ele é um excelente navegador, mesmo em sua versão beta!

Por fim, eu estou revisando artigos antigos dos resumos do Curso de Quenya, tentando simplificar o conteúdo ao máximo. A Lição 1 deve dar uma ideia do que eu estou falando. Onde antes havia tabelas e uma extravagância de negritos e itálicos há, agora, um artigo bem mais conciso.

Omentielva Cantëa pede seus ensaios

A Omentielva, talvez a única convenção global de malucos como nós que estudam élfico, terá sua quarta edição (Cantëa é “quarta” em Quenya) de 11 a 14 de agosto de 2011 em Valência, na Espanha, como eu já havia noticiado.

Em 8 de julho passado o Secretário da Omentielva Anders Stenström mandou um pedido que todos os interessados em ter seu ensaio incluso nos procedimentos o envie para beregond@omentielva.com, da seguinte forma:

Para propor um ensaio, envie o resumo para Beregond, Anders Stenström, o Secretário da Omentielva. Não faça o resumo muito curto; umas duas centenas de palavras são normalmente necessárias (mas é claro isso depende da complexidade do seu assunto). Você não precisa ter as suas conclusões já na proposta, mas delineie como você pretende alcançá-las. Anexe uma pequena apresentação de você mesmo (quatro linhas ou menos). Especifique quais fontes você vai utilizar, e se você vai discutir algum estudo prévio.

Nós esperamos que a apresentação do ensaio leve 40 minutos. Mas nós temos o objetivo de um programa contínuo, e portanto nós podemos acomodar ensaios de durações variadas. Por favor especifique o tempo que você pretende usar, e quaisquer equipamentos técnicos que você precise. Esteja preparado para questões e discussão no fim de sua apresentação.

Copyright e considerações similares podem ser aplicadas. Para publicação, você deve prover uma cópia do seu ensaio na qual todas as citações são marcadas ou a fonte é dada.

Se você quer enviar um ensaio, mas não pode ir à conferência, você pode enviar o ensaio para ser lido e discutido. No caso posterior, diga quaisquer direções ou preferências que você pode ter para a apresentação.

Quem quiser dar uma olhada em artigos de Omentielvar passadas, clique aqui.

Genitivo de -öa

Um curioso furo no nosso conhecimento de Quenya: como formamos o genitivo de palavras que terminam em -öa? Foi a pergunta do usuário “filmnoirkitty” da lista Elfling, no dia 17 de julho:

Se você quer dizer “os andares das casas” eu posso imaginar que seria algo como i talami coaron ou algo similar, mas como seria “o andar da casa”?

Você usaria outra palavra para “casa”? Reescreveria a sentença para evitar o problema? Existe um genitivo válido para coa? Retirar o -a e dobrar o -o não parece válido ()…

A discussão é interessante de acompanhar, mas os resultados mais prováveis foram apresentados por David Salo desta forma: coa < kawa geraria provavelmente cuo. A ideia de Roman Rausch de utilizar cavo não funcionaria, pois -wo em kawo é similar a owo > uo. Uma situação parecida ocorre em tie < teʒe, onde -ee > ie.

Quais palavras se encaixariam nesse padrão? Segundo Salo “coa ‘casa’, foa ‘fôlego’, hoa ‘grande, largo’, hroa ‘corpo’, loa ‘ano’, loar ‘florescer dourado’, noa ‘ideia’ (possivelmente obsoleto), oa(r) ‘longe’, soa ‘sujeira’, toa ‘madeira (material)’. Também ëo “pessoa” < *ewô.” Note que toa é o que Salo considera uma forma normalizada de tavar das Etimologias se seguisse o padrão de evolução fonética apresentado pelas palavras pós-SdA.

Eu sugiro a leitura das duas mensagens de Salo, as 35827 e 35831 para mais detalhes.

Abordagem na tradução de nomes

O Roger A. Lucania me perguntou nos comentários de outro post qual é a minha metodologia para traduzir nomes para as línguas élficas. Como até o momento eu não escrevi sobre isso, achei que seria bom compartilhar com vocês.

A minha abordagem

A tradução de nomes não é, para mim ao menos, uma tarefa só de juntar palavras em um composto, pois a estética do nome é importante. Eu creio que o nome que eu mais me orgulho do resultado seria a tradução Sindarin de Ricardo, Thargon, pela estética tolkieniana (veja por exemplo Turgon e Fingon). Aglargon, a tradução para Rodrigo, não possui o mesmo impacto.

O primeiro passo para a tradução de um nome é buscar o significado. Isso não é feito em sites meia-boca como este aqui. Um estudo etimológico do nome é necessário, junto com uma lista de fontes confiáveis dos quais o site tirou a análise, para que eu aceite o site como uma fonte confiável. Eu não tenho problema com análises místicas de nomes, mas elas não nos servem. Uma análise séria é necessária para que tenhamos uma base sobre a qual trabalhar.

Quais sites eu recomendo? A Behind the Name e o Online Etymology Dictionary. Infelizmente eu não encontrei um site com a mesma qualidade em português, mas em geral os únicos nomes que eu não encontro nesses dois sites são os indígenas brasileiros.

Uma vez que o nome seja encontrado, como por exemplo Roger, é hora de encontrar os elementos que compõem o nome. É aí que algumas coisas precisam ser analisadas. Por exemplo, a palavra alcar “glória” (de onde sai o adjetivo alcarin “glorioso”) aparece dessa forma durante pelo menos 40 anos de desenvolvimento do Quenya por Tolkien, mas “lança” é apresentada tanto como ehtë quanto hatal por Tolkien dentro desses mesmo 40 anos. Como decidir qual usar? Consideramos que os termos são intercambiáveis? Ou por hatal ser relacionado ao verbo hat- “lançar” (que só apareceu no Qenya Lexicon em 1915) trata-se de lanças próprias para arremessar? Seria ehtë um termo próprio para lanças longas, como o pique?

Uma vez que você encontrou os elementos, é só juntá-los da melhor forma possível. Alcarinehtë é uma excelente tradução para Rogéria. Para transformar em um nome masculino, eu substituí o –ë por –on. No livro impresso do Curso de Quenya há um apêndice que trata sobre prefixos e sufixos, inclusive os masculinos e femininos; o apêndice é baseado nesta página da Ardalambion, que infelizmente temos acesso somente em inglês, já que a versão em português do site não retornou depois da perda dos HDDs do servidor.

Uma vez que o nome em Quenya foi feito, eu passo para o Sindarin. Geralmente (não sempre) os cognatos são fáceis de encontrar no dicionário Hiswelóke, ou são mais fáceis de criar. A criação de um elemento faltando é um assunto muito longo para que possamos cobrir aqui, mas as vezes é necessário se você quiser obter qualquer resultado. Algumas vezes, contudo, o contrário acontece: o elemento existe em Sindarin, mas não em Quenya. Se for o caso, o artigo The Evolution from Primitive Elvish to Quenya (PDF) na Ardalambion é o mais indicado.

Uma nota importante sobre o Sindarin é que, normalmente, o segundo elemento de um composto (a junção de duas palavras) sofre mutação consonantal suave, a famosa lenição. É importante ler o Curso de Sindarin para compreender como essa mutação funciona.

Outra abordagem

A minha abordagem, descrita acima e que utilizei nas minhas traduções quando criei o site, é extremamente rudimentar comparada com a abordagem de Roman Rausch, em seu Systematic approach to Elvish name translations. Rausch decantou o processo de tradução do próprio Tolkien e percebeu alguns fatores-chave:

  1. “Deus” nunca é traduzido para Eru, mas sim para Vala, pois na Terra-média o nome de Deus era muito sagrado para ser banalizado. Por exemplo, em Gabriel o elemento ‘el obviamente refere-se a YHVH (Yahweh), mas é etimologicamente conectado a elohim, que também pode ser utilizado de forma geral para vários deuses (como os egípcios, em Êxodo 12:12). Rausch provavelmente utilizaria Vala, evitando Eru, na composição de um nome.
  2. Tolkien não utilizava desinência agental nas suas traduções. P.ex. Eldavel ao invés de **Eldaveldo.
  3. O Professor também não utilizava sempre o substantivo inteiro. Em Eldakan, a raiz KAN- é sufixada, mas não o substantivo káne (na grafia do SdA, Eldacan e cánë respectivamente).
  4. Rausch sugere a substituição de nomes de deuses germânicos para os Valar correspondentes. Odin sendo Manwë, Thor sendo Tulkas e assim por diante.

Há no artigo diversos exemplos de raízes germânicas traduzidas. Utilizando-as como guia, a tradução para “Ricardo” seria Q. Taryaher ou Taryacáno, S. Tarhir ou Targon. “Eduardo”, que eu traduzi para o Q. Almarvarno, S. Galuverior, seria Q. Herentir e S. Herendir. “Gabriel” seria Q. Valaner e S. Balandir.

Parma Eldalamberon 14 e 18 disponíveis

Parma Eldalamberon 14

O Parma Eldalamberon, a publicação de línguas tolkienianas mais antiga ainda em circulação, lançou a sua edição 18 em novembro do ano passado e eu, ocupado com o trabalho, não fiz nenhuma menção dele aqui. Contudo, você ainda pode comprar a edição por 35 dólares (inclui postagem e frete para o Brasil) no site.

O Parma Eldalamberon 18 traz o Tengwesta Qenderinwa, uma gramática do quendiano primitivo feita na década de 1930, contemporânea às Etimologias. Tolkien fez revisões dessa gramática até a década de 1950, atualizando com o conteúdo que surgia enquanto ele compunha O Senhor dos Anéis. Também no PE18 está a segunda parte de um documento sobre os alfabetos fëanorianos, cuja primeira parte foi publicada no PE17, junto com “Palavras, Passagens e Frases d’O Senhor dos Anéis“. A edição 17 também custa 35 dólares e está disponível.

Já o Parma Eldalamberon 14, que estava há muito tempo fora de circulação, está sendo reimpresso com todas as correções requisitadas pelos leitores e deve estar disponível, segundo o site da publicação, no dia 8 de fevereiro, ou seja, na próxima segunda-feira. O preço dessa edição é 30 dólares, postagem e frete inclusos. Essa edição possui fragmentos e a gramática do Qenya das décadas de 1910-20, assim como informações sobre a escrita valmárica.

“Respeitar” em Quenya

Um post de Grant Hicks na Elfling com uma boa sugestão para celebrar o aniversário do Professor.

Eu acho que a Tuilinde fez uma boa observação. O significado que nós damos à palavra “respeito” em inglês não necessariamente segue as raízes (literalmente “olhar para trás para”) mas depende dos desenvolvimentos semânticos pós-clássicos nas línguas românicas. Não há uma razão particular para esperar que o mesmo desenvolvimento aconteceria na história do Quenya, e portanto nenhuma razão para o leitor do neo-Quenya interpretar uma palavra nada familiar que significa etimologicamente “olhar para trás” com o sentido de “ter em alta estima”.

Pode ser mais seguro, do ponto de vista da compreensão, tentar construir uma palavra ou frase de elementos significando “considerar de alto valor”, embora devido às falhas no léxico do Quenya eu percebi que é mais difícil do que parece. Eu brinquei com algo do estilo de arnot- (v.), arnótië (n.) dos elementos #ar-, “alto (i.e., nobre, reverenciado)”, e not-, “contar, reconhecer” (definições do léxico de Helge Fauskanger), mas não tenho certeza de como isso parece para um Quenyanista com experiência. Até onde eu saiba pode soar tão opaco quanto uma palavra significando “olhar para trás”.

Isso faz algum sentido?